quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Reconciliação


"Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não construída por mãos humanas. Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação celestial, porque, estando vestidos, não seremos encontrados nus. Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. Foi Deus que nos preparou para esse propósito, dando-nos o Espírito como garantia do que está por vir. Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no corpo, estamos longe do Senhor. Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos. Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor. Por isso, temos o propósito de lhe agradar, quer estejamos no corpo, quer o deixemos. Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más. Uma vez que conhecemos o temor ao Senhor, procuramos persuadir os homens. O que somos está manifesto diante de Deus, e esperamos que esteja manifesto também diante da consciência de vocês. Não estamos tentando novamente recomendar-nos a vocês, porém lhes estamos dando a oportunidade de exultarem em nós, para que tenham o que responder aos que se vangloriam das aparências e não do que está no coração. Se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é por amor a vocês. Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano. Ainda que antes tenhamos considerado a Cristo dessa forma, agora já não o consideramos assim. Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.”                                                                                                               2 Coríntios 5:1-21

Em Gênesis 2:7 a Bíblia nos diz que Deus formou o homem do pó da terra (apesar da tradicional visão do boneco de barro, a Bíblia não se preocupa em explicar o processo dessa formação), e soprando nele o fôlego de vida, o homem tornou-se alma vivente. Sendo assim, o homem não existia antes, ou seja, nós não somos um espírito pré-existente que habita em um corpo, nós somos essa unidade de corpo terreno, físico, formado a partir das propriedades da própria terra (adamah) e fôlego de vida (ruach). Essa unidade é, portanto, alma vivente (nefesh), um ser vivo pessoal. A separação entre o corpo e o espírito é morte. Por isso a morte nos é tão indigesta, ela é antinatural, é a negação direta do que nós somos. O Apóstolo Paulo nos lembra da esperança referida por Isaías (25:8), a esperança da aniquilação da morte, do golpe final contra nosso maior inimigo – “Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: "A morte foi destruída pela vitória".”(1 Co. 15:54). A transformação do corpo corruptível e mortal em incorruptível e imortal é uma promessa, uma esperança viva da fé cristã, ainda que para muitos, a morte esteja no meio desse caminho como o maior dos percalços – “Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”(1 Co. 15:51). Dormir, ou ainda, ser encontrado nu, de acordo com a linguagem usada pelo Apóstolo no texto acima, da sua segunda carta aos coríntios, é morrer. Contra isso, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos (v. 4). A morte é a culminância de um estado de queda, de uma condição perversa de sobrevivência, de uma conjectura de desamor, dissabores e injustiça. E como disse Ed René Kivitz em O livro mais mal-humorado da Bíblia, a injustiça “pode estar no menino com frio pedindo esmola nas esquinas do trânsito, nas sequelas irreparáveis no corpo do rapaz atropelado por um motorista bêbado, na traição profissional que rouba uma oportunidade única, no abuso sexual, na violência doméstica, (...) nos altos escalões da política, (...) na agressão praticada contra o caçula da casa pelo irmão mais velho, no quarto ao lado do pai de família que, indignado, assiste no telejornal a mais denúncias contra políticos corruptos. (...) A injustiça permeia tudo.” Mas então, no que se fundamenta a esperança de uma vitória sobre a morte, senão no fato de que, como disse Paulo, “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens”? O Apóstolo ainda escreveu aos cristãos em Colossos: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.” (Colossenses 1:15-20). Ora, Deus é a plenitude de todas as coisas, e esta plenitude se agradou de habitar em Jesus, para que, por meio do seu próprio sacrifício em forma humana, satisfizesse sua própria justiça, e assim, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas. Portanto, a injustiça do mundo não é culpa de Deus. Não é construção dele. É fruto nosso. É construção, ou destruição nossa. É resultado de nossas más escolhas, de nosso egoísmo, de nosso desamor. A reconciliação, no entanto, é obra de Deus. Deus em Cristo reconciliou consigo mesmo todas as coisas, e enquanto a plenitude desta reconciliação que já é conhecida na eternidade (“mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.” 1 Pedro 1:19-20), não é totalmente conhecida no nosso plano, Deus nos convida a sermos seus ministros, proclamando a mensagem da reconciliação, a saber, “Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus” (v.20). É pelo amor, e não pelo medo, pela ameaça, pelo terror. Paulo disse que ele “nos deu o ministério da reconciliação”. É este Evangelho com o qual devemos estar comprometidos. E se ministério é serviço, além da proclamação, o serviço que reconcilia, que harmoniza, que socorre, que reparte, deve ser o nosso exercício. Porque é isso que o corpo faz, obedece ao comando da cabeça. É isso que a Igreja faz, proclama e sinaliza com atitudes e obras, servindo ao pobre, ao doente, aflito, ao necessitado, ao próximo. Isso, é que é ser Igreja.

sábado, 2 de março de 2013

How should it be called?

We have lots of challenges to overcome, I guess. We don't know yet about basic things, those that would make life more beautiful and easier. And why not to say fresher, as well. But, we don't feel attracted for this. It seems to be more comfortable seeing life in a black and white way – a kind of an evil pleasure? – and then the world is divided in good and bad, and always according to our own view, or grounded in some strange or misunderstood teaching. Therefore, the other's viewpoint is always a threat, and has to be stuffy, some times, violently. So, it's not enough for us to live our own way of life, we get extremely afflicted, until we drawn up people’s lives, deciding how they have to live. We couldn't realize yet that all is in God and therefore, God is in all. That there is beauty in everything that seeks the good, even in those things that not fit in our standard of goodness. Does this thought should be called anarchism? Or should it be called love?

domingo, 12 de agosto de 2012

Bendize, ó minha alma, ao Senhor.



Ainda essa semana eu me deparei com a imagem acima, no facebook, e me pus a perguntar do que o justo deveria ser ainda salvo. À luz das Escrituras, justos são todos aqueles que “sendo justificados gratuitamente pela sua graça [de Deus], mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24), têm “paz com Deus” (Rm 5.1). Como sacrifício para propiciação, ou seja, como sacrifício que desviava a ira divina, removendo o pecado, Deus ofereceu Jesus, para por meio de seu sangue, demonstrar a sua justiça (Rm 3.25). Portanto o justo tem plena paz com Deus. Não há mais dívida. Não há condenação. Mas ainda assim, o salmista declara haver necessidade de salvação por parte do justo.
Gênesis 2.7 diz: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se alma vivente”. Obviamente o texto é uma figura, à semelhança do trabalho do oleiro, para demonstrar que o homem não é um ser preexistente. Ele é da Terra, criado por Deus exatamente como toda a criação. Mas o homem tornou-se ser vivente, ou alma vivente, quando o Senhor soprou nele o fôlego de vida. Ou seja, é a unidade do corpo físico com um cerne pessoal e imaterial que faz do homem alma vivente. Nós somos, portanto, o ser vivente que além do corpo tem essa essência imaterial e pessoal que ora é identificada pela palavra espírito, ora pelo próprio termo alma. Esta, na verdade, é a sede de todas as coisas. Boas ou más. Não é à toa que o sábio ensinou: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” Pv 4.23. Quando Davi, então, dizia que o justo dependia da salvação do Senhor, ele refletia sobre a necessidade do justo de ser salvo de si mesmo. Porque o salmista sabia que no interior de cada homem habita uma fonte, da qual pode brotar desejos, amor, ambição, ódio, criatividade, medo, egoísmo, compaixão, confusão. A alma humana é a sede de todas as coisas, boas ou más. Mas Davi decidiu, a exemplo do que Paulo disse aos Filipenses 2.12, desenvolver sua salvação a partir de duas maneiras. A primeira, vemos em Salmos 38.9: “Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta”. Davi cumpria, como uma disciplina, uma atitude corriqueira, a ação de expor seus desejos, suas emoções, suas confusões, tudo, absolutamente, ao Senhor. Ele decidia não se esconder. Ele confiava no caráter do Senhor, e se expunha, não deixando nada oculto diante de Deus. Em segundo lugar, Davi fazia um conclame a si mesmo, dizendo: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios” Sl 103.2. No verso primeiro deste mesmo salmo, ele disse “tudo que há em mim bendiga o seu santo nome”. Davi admoestava o seu próprio coração a voltar-se para Deus, a canalizar todas as suas forças ao louvor do nome do Senhor. E se para isso ele precisasse de motivação, então que se não esquecesse de nenhum de seus benefícios, os quais são:

Salmos 103:
3 É ele quem perdoa todas as tuas iniquidades, quem sara todas as tuas enfermidades,
4
quem redime a tua vida da cova, quem te coroa de benignidade e de misericórdia,
5
quem te supre de todo o bem, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia.
6
O Senhor executa atos de justiça, e juízo a favor de todos os oprimidos.
7
Fez notórios os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel.
8
Compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade.
9
Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira.
10
Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniquidades.
11
Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua benignidade para com os que o temem.
12
Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem ele afastado de nós as nossas transgressões.
13
Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.

Portanto vamos bendizer ao Senhor em todo tempo. Aprendendo com Davi, digamos bendize, ó minha alma, ao Senhor, todo o meu ser louve o seu santo nome, porque o Senhor só me tem feito bem. Voltemo-nos para o Senhor a cada dia. Efetuemos a nossa salvação, apresentando todos os dias as nossas ansiedades e os nossos desejos ao Senhor, mesmo aqueles mais escusos. Relembremo-nos de seus maravilhosos feitos por nós. Porque ele nos tomou de volta pra si mesmo, e nos fez seu. Seus filhos amados, dos quais ele se compadecerá sempre. Bendizei ao Senhor, e não se esqueça de nenhum só de seus benefícios.

sábado, 26 de maio de 2012

ALTERIDADE - Frei Betto

O que é alteridade? É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem.
A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele. Ele não sabe. Eu sei melhor e sei mais do que ele. Toda a estrutura do ensino no Brasil, criticada pelo professor Paulo Freire, é fundada nessa concepção. O professor ensina e o aluno aprende. É evidente que nós sabemos algumas coisas e, aqueles que não foram à escola, sabem outras tantas, e graças a essa complementação vivemos em sociedade. Como disse um operário num curso de educação popular: "Sei que, como todo mundo, não sei muitas coisas".
Numa sociedade como a brasileira em que o apartheid é tão arraigado, predomina a concepção de que aqueles que fazem serviço braçal não sabem. No entanto, nós que fomos formados como anjos barrocos da Bahia e de Minas, que só têm cabeça e não têm corpo, não sabemos o que fazer das mãos. Passamos anos na escola, saímos com Ph.D., porém não sabemos cozinhar, costurar, trocar uma tomada ou um interruptor, identificar o defeito do automóvel... e nos consideramos eruditos. E o que é pior, não temos equilíbrio emocional para lidar com as relações de alteridade.
Daí por que, agora, substituíram o Q.I. para o Q.E., o Quociente Intelectual para o Quociente Emocional. Por quê? Porque as empresas estão constatando que há, entre seus altos funcionários, uns meninões infantilizados, que não conseguem lidar com o conflito, discutir com o colega de trabalho, receber uma advertência do chefe e, muito menos, fazer uma crítica ao chefe.
Bem, nem precisamos falar de empresa. Basta conferir na relação entre casais. Haja reações infantis...
Quem dera fosse levada à prática a idéia de, pelo menos a cada três meses, um setor da empresa fazer uma avaliação, dentro da metodologia de crítica e autocrítica. E que ninguém ficasse isento dessa avaliação. Como Jesus um dia fez, ao reunir um grupo dos doze e perguntar: "O que o povo pensa de mim?" E depois acrescentou: "E o que vocês pensam de mim?"
Quem, na cultura ocidental, melhor enfatizou a radical dignidade de cada ser humano, inclusive a sacralidade, foi Jesus. O sujeito pode ser paralítico, cego, imbecil, inútil, pecador, mas ele é templo vivo de Deus, é imagem e semelhança de Deus. Isso é uma herança da tradição hebraica. Todo ser humano, dentro da perspectiva judaica ou cristã, é dotado de dignidade pelo simples fato de ser vivo. Não só o ser humano, todo o Universo. Paulo, na Epístola aos Romanos, assinala: "Toda a Criação geme em dores de parto por sua redenção".
Dentro desse quadro, o desafio que se coloca para nós é como transformar essas cinco instituições pilares da sociedade em que vivemos: família, escola, Estado (o espaço do poder público, da administração pública), Igreja (os espaços religiosos) e trabalho. Como torná-los comunidades de resgate da cidadania e de exercício da alteridade democrática? O desafio é transformar essas instituições naquilo que elas deveriam ser sempre: comunidades. E comunidades de alteridade.
Aqui entra a perspectiva da generosidade. Só existe generosidade na medida em que percebo o outro como outro e a diferença do outro em relação a mim. Então sou capaz de entrar em relação com ele pela única via possível – porque, se tirar essa via, caio no colonialismo, vou querer ser como ele ou que ele seja como sou - a via do amor, se quisermos usar uma expressão evangélica; a via do respeito, se quisermos usar uma expressão ética; a via do reconhecimento dos seus direitos, se quisermos usar uma expressão jurídica; a via do resgate do realce da sua dignidade como ser humano, se quisermos usar uma expressão moral. Ou seja, isso supõe a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade.

Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto - autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros.
Fonte: http://www.freibetto.org/index.php/artigos/45-alteridade-frei-betto

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Panteism and Panenteism: a necessary Distinction

Leonardo Boff
A radical and coherent cosmological vision holds that the ultimate subject of everything that happens is the universe itself. The universe causes the appearance of beings, complexities, biodiversity, consciousness, and the contents of that consciousness, of which we are a part.
Thus, before it arose as an idea in our heads, the reality of God was in the universe itself. Because the reality of God was in the universe, the idea of God could come forth in us. Starting from this concept, we can understand that God is inherent in the universe. God is mixed with all the processes, without being diluted by them. Better yet, God orients the arrow of time towards the formation of ever more complex and dynamic orders, (that, consequently, distance themselves from the equilibrium to seek new adaptations), that are filled with purpose. God appears, in the language of cross-cultural traditions, as the creative Spirit, and organizer of all that exists. God is mixed with all things, participating in their development, suffering with mass extinctions, feeling crucified with the impoverished, and happy with the advances towards more convergent and interrelated diversities, pointing towards an Omega end point.
God is present in the cosmos and the cosmos is present in God. The old theology expressed this mutual inter-penetration by the concept of «pericoresis» applied to the relationships between God and creation, and thereafter, to the Persons of the Divine Trinity. Modern theology has coined another expression, «panenteism» (in Greek: pan=all; en=in; theos=God). This is: God is in everything and everything is in God. This word was proposed by an Evangelical, Frederick Krause (l781-1832), who was fascinated by the divine splendor of the universe.
Panenteism must be clearly distinguished from panteism. Panteism (in Greek: pan = all; theos=God) affirms that all is God and God is all. It holds that God and the world are identical; that the world is not a creation of God, but the necessary mode of being of God. Panteism accepts no differentiation: heaven is God, the Earth is God, the rock is God and the human being is God. This lack of differentiation easily leads to indifference. All is God and God is all, consequently it makes no difference whether I concern myself for a girl abused in a bus of Rio, or about the Carnival, or the indigenous peoples facing extinction, or a law against homophobia. This is manifestly erroneous, because differences exist and persist.
Not all is God. Things are what they are: things. However, God is in things and things are of God, by reason of His act of creation. The creature always depends on God and without God the creature would return to the nothingness whence it came. God and the world are different, but they are neither separated nor closed, they are open one for the other. They are different so as to make possible mutual encounter and communion. Through it, transcendence and immanence, the contrasting categories of Greek origin, are left behind.
Immanence is this world, here. Transcendence is the world that is beyond this. Christianity, by the incarnation of God created a new category: transparence, that is the presence of the transcendence (God) within the immanence (world). When this happens, God and the world mutually make each other transparent. As Jesus said: \”who sees me, sees the Father\”. Teilhard de Chardin lived a moving spirituality of the transparence. In The Divine Milieu, an essay on the interior life, (Le milieu divin, 162), he said: «the great mystery of Christianity is not the apparition, but the transparence of God in the universe. Not only the ray that emerges, but the ray that penetrates. Not the Epiphany but the Diaphaneity».
The universe in cosmogenesis invites us to live the experience that underlies panenteism: in every minimal manifestation of being, in every movement, in every expression of life we are in the presence and action of God. Embracing the world we embrace God. Those who are sensitive to the Sacred and to the Mystery pull God out of anonymity, and give the Divine a name. They celebrate the Divine with hymns, songs and rites, through which they express their experience of God. They are witness to what Paul said to the Greeks from Athens: “We live, we move, we exist in God.” (17, 28).

Por Leonardo Boff
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/04/21/panteism-and-panenteism-a-necessary-distinction/

domingo, 26 de fevereiro de 2012

“Tempo de Partir”, do pastor Ricardo Gondim

RICARDO GONDIM
 Pastor desabafa e se diz rompendo com ‘movimento evangélico’



  O pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda, anunciou em seu site, através  de um artigo, que está rompendo com o Movimento Evangélico. Narrando suas experiências religiosas desde adolescência, quando abandonou o catolicismo inquieto pelo que chamou de “dogmas” da igreja romana, o pastor falou sobre o que o fez romper com a Igreja Presbiteriana e com a Assembleia de Deus, exemplificando cada caso.

     Agora, se dizendo sem saber para onde ir, afirma que está querendo “apenas experimentar a liberdade prometida nos Evangelhos” e que não abandonará sua vocação de pastor e continuará servindo na Betesda.
      Os motivos listados por Gondim em seu artigo reclamam da transformação do evangelho em negócio, e se diz “incapaz de tolerar” a transformação da fé em negócio. “Não posso aceitar, passivamente, que tentem converter os cristãos em consumidores e a igreja, em balcão de serviços religiosos. Entendo que o movimento evangélico nacional se apequenou. Não consegue vencer a tentação de lucrar como empresa. Recuso-me a continuar esmurrando as pontas de facas de uma religião que se molda à Babilônia”, acusa o pastor.
     A falta de afinidade com os grandes líderes evangélicos nacionais também é colocada como uma questão de peso e decisiva para o rompimento: “Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico (principalmente os que se valem da mídia). Conheço muitos de fora dos palcos e dos púlpitos. Sei de histórias horrorosas, presenciei fatos inenarráveis e testemunhei decisões execráveis”, afirma o pastor, sem citar nomes.
     Em mais uma crítica direta à teologia da prosperidade, que tem sido priorizada em diversas denominações, o pastor Gondim afirma que a igreja se tornou inútil ao pregar essa mensagem: “No momento em que o sal perde o sabor para nada presta senão para ser jogado fora e pisado pelos homens. Não desejo me sentir parte de uma igreja que perde credibilidade por priorizar a mensagem que promete prosperidade. Como conviver com uma religião que busca especializar-se na mecânica das “preces poderosas”? O que dizer de homens e mulheres que ensinam a virtude como degrau para o sucesso? Não suporto conviver em ambientes onde se geram culpa e paranoia como pretexto de ajudar as pessoas a reconhecerem a necessidade de Deus”.
     Um texto publicado pelo jornalista Paulo Lopes, atribuído a José Geraldo Gouvêa, ateu declarado, afirma que “Gondim não tem para onde ir, a não ser os braços do ateísmo”. O autor do texto afirma se identificar com o pastor, “uma espécie de Leonardo Boff evangélico”, fazendo menção ao ex-frei e crítico ferrenho da Igreja Católica.

Confira abaixo a íntegra do artigo “Tempo de Partir”, do pastor Ricardo Gondim:
      Não perdi o juízo. Minha espiritualidade não foi a pique. Minhas muitas tarefas não me esgotaram. Entretanto, não cessam os rótulos e os diagnósticos sobre minha saúde espiritual. Escrevo, mas parece que as minhas palavras chegam a ouvidos displicentes. Para alguns pareço vago, para outros, fragmentado e inconsistente nas colocações (talvez seja mesmo). Várias pessoas avisam que intercedem a Deus para que Ele me acuda.
     Minha peregrinação cristã está, há muito, marcada por rompimentos. O primeiro, rachei com a Igreja Católica, onde nasci, fui batizado e fiz a Primeira Comunhão. Em premonitórias inquietações não aceitava dogmas. Pedi explicações a um padre sobre certas práticas que não faziam muito sentido para mim. O sacerdote simplesmente deu as costas, mas antes advertiu: “Meu filho, afaste-se dos protestantes, eles são um problema!”.
     Depois de ler a Bíblia, decidi sair do catolicismo; um escândalo para uma família que se orgulhava de ter padres e freiras na árvore genealógica – e nenhum “crente”. Aportei na Igreja Presbiteriana Central de Fortaleza. Meus únicos amigos crentes vinham dessa denominação. Enfronhei em muitas atividades. Membro ativo, freqüentei a escola dominical, trabalhei com outros jovens na impressão de boletins, organizei retiros e acampamentos. No cúmulo da vontade de servir, tentei até cantar no coral – um desastre. Liderei a União de Mocidade. Enfim, fiz tudo o que pude dentro daquela estrutura. Fui calvinista. Acreditei por muito tempo que Deus, ao criar todas as coisas, ordenou que o universo inteiro se movesse de acordo com sua presciência e soberania. Aceitei tacitamente que certas pessoas vão para o céu e para o inferno devido a uma eleição. Essa doutrina fazia sentido para mim até porque eu me via um dos eleitos. Eu estava numa situação bem confortável. E podia descansar: a salvação da minha alma estava desde sempre garantida. Mesmo que caísse na gandaia, no último dia, de um jeito ou de outro, a graça me resgataria. O propósito de Deus para minha vida nunca seria frustrado, me garantiram.
     Em determinada noite, fui a um culto pentecostal. O Espírito Santo me visitou com ternura. Em êxtase, imerso no amor de Deus, falei em línguas estranhas – um escândalo na comunidade reverente e bem comportada. Sob o impacto daquele batismo, fui intimado a comparecer à versão moderna da Inquisição. Numa minúscula sala, pastores e presbíteros exigiram que eu negasse a experiência sob pena de ser estigmatizado como reles pentecostal. Ameaçaram. Eu sofreria o primeiro processo de expulsão, excomunhão, daquela igreja desde que se estabelecera no século XIX. Ainda adolescente e debaixo do escrutínio opressivo de uma gerontocracia inclemente, ouvi o xeque mate: “Peça para sair, evite o trauma de um julgamento sumário. Poupe-nos de sermos transformados em carrascos”. Às duas da madrugada, capitulei. Solicitei, por carta, a saída. A partir daquele momento, deixei de ser presbiteriano.
     De novo estava no exílio. Meu melhor amigo, presidente da Aliança Bíblica Universitária, pertencia a Assembleia de Deus e para lá fui. Era mais um êxodo em busca de abrigo. Eu só queria uma comunidade onde pudesse viver a fé. Cedo vi que a Assembleia de Deus estava engessada. Sobravam legalismo, politicagem interna e ânsia de poder temporal. Não custou e notei a instituição acorrentada por uma tradição farisaica. Pior, iludia-se com sua grandeza numérica. Já pastor da Betesda eu me tornava, de novo, um estorvo. Os processos que mantinham o povo preso ao espírito de boiada me agrediam. Enquanto denunciava o anacronismo assembleiano eu me indispunha. A estrutura amordaçava e eu me via inibido em meu senso crítico. A geração de pastores que ascendia se contentava em ficar quieta. Balançava a cabeça em aprovação aos desmandos dos encastelados no poder. Mais uma vez, eu me encontrava numa sinuca. De novo, precisei romper. Eu estava de saída da maior denominação pentecostal do Brasil. Mas, pela primeira vez, eu me sentia protegido. A querida Betesda me acompanhou.
     Agora sinto necessidade de distanciar-me do Movimento Evangélico. Não tenho medo. Depois de tantas rupturas mantenho o coração sóbrio. As decepções não foram suficientes para azedar a minha alma, sequer fortes para roubar a minha fé. “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso”.
     Estou crescentemente empolgado com as verdades bíblicas que revelam Jesus de Nazaré. Aumenta a minha vontade de caminhar ao lado de gente humana que ama o próximo. Sinto-me estranhamente atraído à beleza da vida. Não cesso de procurar mentores. Estou aberto a amigos que me inspirem a alma.
     Então por que uma ruptura radical? Meus movimentos visam preservar a minha alma da intolerância. Saio para não tornar-me um casmurro rabugento. Não desejo acabar um crítico que nunca celebra e jamais se encaixa onde a vida pulsa. Não me considero dono da verdade. Não carrego a palmatória do mundo. Cresce em mim a consciência de que sou imperfeito. Luto para não permitir que covardia me afaste do confronto de meus paradoxos. Não nego: sou incapaz de viver tudo o que prego – a mensagem que anuncio é muito mais excelente do que eu. A igreja que pastoreio tem enormes dificuldades. Contudo, insisto com a necessidade de rescindir com o que comumente se conhece como Movimento Evangélico.
      1. Vejo-me incapaz de tolerar que o Evangelho se transforme em negócio e o nome de Deus vire marca que vende bem. Não posso aceitar, passivamente, que tentem converter os cristãos em consumidores e a igreja, em balcão de serviços religiosos. Entendo que o movimento evangélico nacional se apequenou. Não consegue vencer a tentação de lucrar como empresa. Recuso-me a continuar esmurrando as pontas de facas de uma religião que se molda à Babilônia.
      2. Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico (principalmente os que se valem da mídia). Conheço muitos de fora dos palcos e dos púlpitos. Sei de histórias horrorosas, presenciei fatos inenarráveis e testemunhei decisões execráveis. Sei que muitas eleições nas altas cupulas denominacionais acontecem com casuísmos eleitoreiros imorais. Estive na eleição para presidente de uma enorme denominação. Vi dois zeladores do Centro de Convenções aliciados com dinheiro. Os dois receberam crachá e votaram como pastores. Já ajudei em “cruzadas” evangelísticas cujo objetivo se restringiu filmar a multidão, exibir nos Estados Unidos e levantar dinheiro. O fim último era sustentar o evangelista no luxo nababesco. Sou testemunha ocular de pastores que depois de orar por gente sofrida e miserável debocharam delas, às gargalhadas. Horrorizei-me com o programa da CNN em que algumas das maiores lideranças do mundo evangélico americano apoiaram a guerra do Iraque. Naquela noite revirei na cama sem dormir. Parecia impossível acreditar que homens de Deus colocam a mão no fogo por uma política beligerante e mentirosa de bombardear outro país. Como um movimento, que se pretende portador das Boas Novas, sustenta uma guerra satânica, apoiada pela indústria do petróleo.
     3. No momento em que o sal perde o sabor para nada presta senão para ser jogado fora e pisado pelos homens. Não desejo me sentir parte de uma igreja que perde credibilidade por priorizar a mensagem que promete prosperidade. Como conviver com uma religião que busca especializar-se na mecânica das “preces poderosas”? O que dizer de homens e mulheres que ensinam a virtude como degrau para o sucesso? Não suporto conviver em ambientes onde se geram culpa e paranoia como pretexto de ajudar as pessoas a reconhecerem a necessidade de Deus.
     4. Não consigo identificar-me com o determinismo teológico que impera na maioria das igrejas evangélicas. Há um fatalismo disfarçado que enxerga cada mínimo detalhe da existência como parte da providência. Repenso as categorias teológicas que me serviam de óculos para a leitura da Bíblia. Entendo que essa mudança de lente se tornou ameaçadora. Eu, porém, preciso de lateralidade. Quero dialogar com as ciências sociais. Preciso variar meus ângulos de percepção. Não gosto de cabrestos. Patrulhamento e cenho franzido me irritam . Senti na carne a intolerância e como o ódio está atrelado ao conformismo teológico. Preciso me manter aberto à companhia de gente que molda a vida, consciente ou inconsciente, pelos valores do Reino de Deus sem medo de pensar, sonhar, sentir, rir e chorar. Desejo desfrutar (curtir) uma espiritualidade sem a canga pesada do legalismo, sem o hermético fundamentalismo, sem os dogmas estreitos dos saudosistas e sem a estupidez dos que não dialogam sem rotular.
     Não, não abandonarei a vocação de pastor. Não negligenciarei a comunidade onde sirvo. Quero apenas experimentar a liberdade prometida nos Evangelhos. Posso ainda não saber para onde vou, mas estou certo dos caminhos por onde não devo seguir.

     Soli Deo Gloria

Fonte: http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=17218
 PS.: Que coragem! Todo meu respeito e toda minha admiração pelo Pastor Ricardo Gondim. Deus o abençoe.