Muitos ensinam que o nascimento, por assim dizer, da Igreja ocorreu no dia de Pentecoste, quando os discípulos foram cheios do Espírito Santo, de acordo com a descrição do capítulo 2 de Atos dos Apóstolos. No entanto, o texto a partir de João 2.19, e indo pelo capítulo seguinte, nos remete a cinquenta dias antes, no domingo da ressurreição. João diz que estando os discípulos – exceto Tomé – reunidos naquele domingo, a portas fechadas por medo dos judeus, Jesus apareceu no meio deles e “disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. E com isso soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados.”” (Jo 20.21-23). Aquele foi um momento célebre. Foi o momento em que o Espírito Santo veio sobre os discípulos, aos quais oficialmente foi transferido o ministério que era de Jesus, o ministério de anunciar e manifestar o reino de Deus, inclusive com a prerrogativa de perdoar pecados. Nascia a Igreja, o corpo de Jesus Cristo na terra, tendo como fôlego de vida o próprio Espírito Santo de Deus, que houvera sido prometido por Jesus (“E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” Jo 14.16-17). Uma semana depois Jesus aparece novamente e acaba com a incredulidade de Tomé, que não o tinha visto na primeira aparição (Jo 20.24-29). Porém, um detalhe importante neste novo episódio pode ser notado. Embora os discípulos já tivessem recebido o Espírito Santo, continuavam a portas fechadas, ao contrário do que se esperava, caso estivessem cumprindo suas instruções de envio: “Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou...” (v. 26). Ou seja, eles já tinham recebido o Espírito Santo, e já haviam sido enviados, mas continuavam na mesma posição de antes. Como se isso ainda não pudesse piorar, Pedro resolve voltar ao seu ofício anterior à sua jornada como discípulo. E devido ao seu espírito de liderança, outros decidem segui-lo! A pescaria foi um fracasso, até que Jesus lhes apareceu e “assumiu os remos do barco”. Ele mandou que os discípulos jogassem a rede para o lado oposto ao que eles estavam jogando, e então pescaram cento e cinquenta e três grandes peixes. Naquela ocasião, Jesus estava mostrando aos seus discípulos que embora eles tivessem escolha, o sucesso estava mesmo, era na obediência ao chamado do Senhor para as suas vidas (Jo 21.1-14).
Lucas, o autor de Atos dos Apóstolos, ratifica a informação de que Jesus apareceu aos apóstolos diversas vezes, durante quarenta dias, entre a ressurreição e o dia de Pentecoste (At 1.3). Ele disse que em certa ocasião Jesus lhes instruiu que não saíssem de Jerusalém, mas esperassem pela promessa do Pai. Segundo o apóstolo Pedro, “isso é o que foi predito pelo profeta Joel” (At 2.14-21; Jl 2.28-32). Alguns quiseram confundir o cumprimento dessa promessa com a restauração do reino de Israel, mas Jesus lhes disse que os tempos e as datas destas outras coisas competem unicamente ao Pai (At 1.6-7). E então esclareceu que o cumprimento da promessa predita por Joel seria um revestimento de poder que os tornariam capazes de serem suas testemunhas em toda a terra (“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” At 1.8). O cumprimento desta promessa é descrito no capítulo 2, do livro de Atos. Sem dúvida alguma, é o maior milagre já realizado durante o período da História da Igreja: “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Havia em Jerusalém judeus, devotos, vindos de todas as nações do mundo. Ouvindo-se o som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua. Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: Acaso não são galileus todos estes homens que estão falando? Então, como os ouvimos, cada um de nós, em nossa própria língua materna?”” (At 2.1-8). Cumpria-se a promessa do revestimento de poder sobre a Igreja. O grupo de cerca de cento e vinte, a Igreja do Senhor, já tinha o Espírito Santo que os dava vida como corpo de Cristo (At 1.14-26), mas no dia de Pentecoste, eles foram capacitados exatamente com o que precisavam para serem testemunhas do Senhor entre os povos. Eles receberam ousadia e intrepidez para pregar, mas também o dom necessário àquela ocasião. Pessoas de todas as nações estavam presentes. E a todas as nações era o envio. Mas como elas ouviriam se eles não pregassem? E como eles pregariam se não fossem capacitados pelo Espírito Santo para falarem nas línguas dessas várias nações? Um som muito forte invadiu o ambiente em que eles estavam, e algo como línguas de fogo desceu sobre cada um deles, e eles falaram em outras línguas, conforme o Espírito Santo os capacitava, e a mensagem do reino de Deus, da manifestação de amor e de toda boa vontade do Pai jamais cessou de se espalhar por toda a terra desde então.
A nossa petição ao Senhor deve ser para que os céus continuem se abrindo sobre nós, e que o Espírito Santo nos faça vivenciar mais e mais vezes o milagre desse derramamento de poder que nos capacita com os dons necessários para o cumprimento de nosso envio como Igreja do Senhor, em todas as diversas situações e ambientes. A Igreja perseguida em países islâmicos, hinduístas, budistas e comunistas; em países europeus chamados pós-cristãos; ou em países de uma religiosidade tão sincrética como o nosso, por exemplo, precisa ser constantemente despertada e revestida pelo poder do Espírito Santo, que nos capacita em todas as coisas, para que o reino de Deus seja sinalizado com ousadia, piedade e virtude. Desça hoje sobre nós, Espírito de Deus! Que o teu fogo nos tome pra ti, e que nos unamos com sincero quebrantamento ao Senhor, para que a tua vontade seja feita assim na terra, como no céu. Amém!