“Dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor, o seu Deus; e disse: "Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor. Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam um turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Eu disse: Fui expulso da tua presença; contudo, olharei de novo para o teu santo templo? As águas agitadas me envolveram, o abismo me cercou, as algas marinhas se enrolaram em minha cabeça. Afundei até chegar aos fundamentos dos montes; à terra embaixo, cujas trancas me aprisionaram para sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da sepultura, ó Senhor meu Deus! "Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo. "Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia. Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do Senhor". E o Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme.” Jonas 2
Jonas foi um profeta em Israel nos dias de Jeroboão II. Ele recebeu uma ordem de Deus em relação à Nínive, uma cidade da Assíria, mas desobedeceu e tentou fugir do Senhor, indo para Társis, cidade ao sul da Espanha. O resultado da desobediência de Jonas está descrito no texto acima. Porém, nesse texto há muito mais do que um relato histórico do ocorrido. Ele é a oração do profeta, submergido em profundezas de pensamentos, de dor, de desespero e de arrependimento.
A vida, definitivamente, não pode ser vivida do tipo “vamos ver no que vai dar”. Ela é muito dinâmica, e as possibilidades de caminhos a serem trilhados são diversas. Por isso mesmo a nossa caminhada é feita de escolhas. De decisões que precisão ser feitas e refeitas constantemente. Se nós não as fizermos, a vida as fará por nós. E a possibilidade de nos tornarmos reféns delas é iminente. Às vezes nos deparamos em situações semelhantes à situação do profeta. Perdidos em escolhas mal feitas, ou mal orientadas, ou mesmo na escolha de nos omitirmos a fazê-las, e quando nos damos conta, já fomos longe demais; nossas cabeças já foram totalmente tomadas por algas marinhas que se enrolam na forma de maus pensamentos fixos, desejos perversos ou pervertidos, vícios, desesperança, revolta e até ódio. E o pior de tudo, é que mesmo frequentando os mesmos redutos religiosos de sempre, somos gradativamente atraídos ao esquecimento do Senhor; nossa relação com Deus tornasse apática, ainda que, na maioria das vezes, pareça ser a única coisa que nos resta. Neste ponto, já não somos mais de nós mesmos. Porém não no sentido que Paulo falou, mas no sentido oposto. Somos apenas escravos, aprisionados dentro de uma fortaleza de dores, de mazelas espirituais, com uma inquietação interior e uma fome insaciável de sentido existencial. Na sua oração, o profeta Jonas declara: "Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo.” Sem dúvida, Deus nos permite, muitas vezes, ir até ao “ventre da morte”, antes de nos lembrarmos dele, e de que nosso clamor encontre sua presença. De outra forma, com que coração nós tornaríamos à sua presença? Com o mesmo coração imaturo e displicente de antes? Em meio às profundezas Jonas foi pertinente ao perguntar: “contudo, olharei de novo para o teu santo templo?” Voltarei a estar em sua presença?... A verdade é que a dor que sentimos, de alguma forma, é compartilhada pelo Senhor. Ela não é só nossa ("Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; ando de luto; o espanto se apoderou de mim." Jeremias 8:21). Mas se a ferida se fez necessária, ele a fará, para que possa sarar o mal maior que a provocou. O desejo de Deus, é que o seu desejo seja o nosso. E o seu desejo é que os nossos olhos e coração não estejam voltados para nada que possa tomar seu lugar. É que a nossa vida seja como uma canção de gratidão a ele. A canção que só os que o conhecem aprendem a cantar. E para os que se encontram em fortalezas... não há prisões que ele não possa romper, nem paredes que resistam à sua presença. À esta, que é o nosso maior presente, e que deve ser o nosso maior desejo.
"Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas. Depois de dois dias ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em sua presença. Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra." Oséias 6:1-3
Nenhum comentário:
Postar um comentário