quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tempos de provação

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação, preparada para se revelar no último tempo.” 1Pe 1.3-5

O Apóstolo Pedro anima os irmãos sob perseguição, lembrando-os de seu resgate, pela misericórdia de Deus Pai, por meio da ressurreição de Jesus Cristo, para uma viva esperança, uma herança que a nada poderia ser comparada, e que seria revelada, ou manifesta em sua plenitude, no último tempo. Cada um deles, ensina o apóstolo, está guardado pelo poder de Deus, para esta salvação, mediante a fé. Mas você conseguiu perceber? Os irmãos estavam sob perseguição, naqueles dias, e Pedro tentava animá-los com uma promessa, que embora fosse certa, só desfrutariam no último tempo. E talvez se nós fôssemos esses irmãos a nossa pergunta fosse: “E quanto tempo mais teremos que agüentar, até que o último tempo chegue? Porque nós estamos sob perseguição agora!” Na verdade, algumas lições são tão difíceis de serem aprendidas! Nós aprendemos fácil, fácil que o Senhor é o nosso pastor. Mas dificilmente lembramos que este mesmo pastor, embora nunca nos deixe não nos poupa de passarmos pelo vale da sombra da morte.
E Pedro continua:

“Nisto exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo que apurado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo, a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” 1Pe 1.6-9

Provavelmente a razão de tanta ansiedade para vivermos o paraíso hoje, de tanto imediatismo, de tanta gente que só prega vitória, cura só se “for agora”, etc., seja pelo fato de não entendermos a razão das provações. Bem verdade que o próprio termo não ajuda! Porque quando Deus – ou a vida – nos submete a provações, como aconteceu com Jó, Abraão, José, Davi, Paulo, João, e tantos outros, o Senhor não está testando-nos, com o propósito de conhecer o nosso coração, como se isso fosse algum mistério pra ele. Mas, como exemplificou o Apóstolo Pedro, Deus está submetendo o nosso coração ao fogo, para a purificação de toda impureza, a fim de enobrecê-lo! O próprio Jesus passou por vários sofrimentos e provações, aprendeu, cresceu com todas elas. Mas com certeza a maior de todas foi a própria cruz. Porém, é claro, Jesus não precisava ser purificado de nada. Mas na cruz, Jesus éramos “nós”. E nós, não estávamos sendo avaliados. Nós estávamos sendo redimidos, para nos tornarmos herdeiros da viva esperança. Hoje, no entanto, até que chegue o tempo da salvação plena, o último tempo, as provações vão servindo como ferramentas, nos quebrantando e nos limpando, de modo que a nossa fé vai se tornando mais pura e simples, a nossa alma mais salva, mais liberta, e o Senhor Jesus mais revelado, mais conhecido, mais glorificado e honrado, hoje, em/e através de nós.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Viver a vida – Feliz 2010!

Para alguns, o final de um ano e começo de outro é tempo bastante místico. A passagem é como a entrada em uma atmosfera espiritual completamente diferente da do ano anterior. Para outros, é apenas mais um anoitecer e amanhecer, como outro dia qualquer. Pra mim, essa ocasião tem um significado alternativo. Eu creio que nós precisamos de ícones, de representações, é assim que nós funcionamos. Nós sabemos que somos queridos, mas receber um presente, uma mensagem, ou um telefonema das pessoas que nos quer bem, no dia do nosso aniversário, por exemplo, é muito importante. Essas coisas são como ícones desse bem-querer. São representações. É como dois amantes, que tem consciência do seu amor um pelo outro, mas, que não conseguem experimentar nada melhor do que uma declaração ou um buquê de flores em dias normais, como expressão do amor que os uni. Pra mim, o final de um ano, e o começo de outro tem esse significado. É como um ícone, um acontecimento que me lembra que os meus dias estão passando, que minha vida está correndo, rápido, como um raio de luz. E eu aproveito a oportunidade pra ponderar um pouco a respeito do que eu tenho feito com os dias que me foram concedidos pelo Criador.

Durante todos esses dias eu estive lendo e pensando um pouco sobre o livro de Eclesiastes. Logo no começo, nos versos 12 a 14 do segundo capítulo, o sábio pensador nos declara:

“Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive. Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus. Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que os homens o temam.”

Fazer o bem, comer, beber, trabalhar, construir na vida... ser feliz. Para o pensador, não existe nada melhor pro homem, do que simplesmente ser feliz. E ser feliz não com o que não se tem, mas exatamente com o pouco ou muito que se tem. Porque em ambos os casos, a vontade de Deus está sendo manifesta. Para que nós o temamos. É simples assim, é apenas escolher ser feliz. É aceitar os caminhos da vida como dádiva, e não como martírio. Porque a nossa felicidade honra a Deus, mas o nosso sofrimento constante, não. No sétimo capítulo o sábio ainda nos instrui:

“Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se a si mesmo? Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo? É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos.” (Vs. 16 a 18)

Deixa os radicalismos pros que temem a religião, ou para os que não temem nada. Para os que temem a Deus, a proposta é o equilíbrio. Por que submeter-se a situações-prisões, relacionamentos-prisões, imposições-prisões? Por que destruir-se a sim mesmo? Por que entregar-se a uma vida de pseudo liberdade, sem propósitos, sem co-dependência, cheia de desamor e solitária? Por que morrer antes do tempo? Parece que o grande convite é para que vivamos a vida. Não é para que agente morra a cada dia, pelo contrário. É para que agente rejeite a cada dia, o que nos faz morrer. De modo que possamos de fato viver a vida. Mas isso é coisa pros que temem a Deus. É para aqueles que, embora tenham assumido como propósito em vida parecer com o Mestre dos mestres, não tem medo de viver, de escolher, de caminhar, se arriscando inclusive ao erro, pois “Todavia, não há um justo na terra, ninguém que pratique o bem e nunca peque.” (7.20). Mais adiante o pensador ainda diz:

“Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. Afaste seu coração da ansiedade e acabe com o sofrimento do seu corpo, pois a juventude e o vigor são passageiros. Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: “Não tenho satisfação neles”” (11.9-10; 12.1).

Alguns entendem que o pensador usou de ironia nesses versos. Eu não. Pra mim, o pensador continua dizendo ao que está vivo: “Viva, e viva hoje. Viva intensamente. Não se martirize, se punindo, ou se privando o tempo todo, mas viva. Mas viva mesmo! E viver mesmo, é viver intensa e sabiamente”. Então, se esse é nosso grande convite existencial, como aceitá-lo da forma mais digna possível? Como achar esse equilíbrio, sem se tornar prisioneiros dos medos, do moralismo hipócrita, da religiosidade cancerígena, e ao mesmo tempo, sem se perder na autodestruição da libertinagem, da “vida/morte” individualista e egocêntrica? Como achar a sabedoria necessária pra viver a vida? E o pensador responde em Provérbios:

“O temor do Senhor é o princípio (a chave) da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” (9.10) E mais: “Temer o Senhor é odiar o mal” (8.13a).

É odiar a fofoca, a falsidade, o egoísmo, o desprezo ao necessitado, a idolatria da religião, dos ministérios, a falta de humildade, a crítica sem a auto-análise, sem misericórdia, é odiar o engano, a mentira, o desamor.

Pra mim, essa passagem de ano é um lembrete e um convite do Criador à viver a vida. E viver intensamente, mas como quem o teme, odiando o mal, e amando todo o bem.

Feliz 2010!