sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um momento de cada vez – Feliz 2011.

Depois de dois anos na Escócia e quase quatro em São Paulo, eu acabo de voltar para morar novamente na minha cidade natal, Tobias Barreto, no Estado de Sergipe. Enquanto estive na Escócia sentia tanta saudade de minha família e amigos aqui no Brasil, que às vezes parecia doer. De volta ao Brasil, mas morando em São Paulo, sempre senti uma saudade absurda de Edimburgo (a cidade mais linda do mundo!) e de todos os amigos escoceses e brasileiros que tive o privilégio de fazer por lá, além da tremenda falta de minha família e amigos de Sergipe. Hoje, o meu sobrinho, graças a Deus, não larga do meu pé, e a saudade de minha família e amigos de Tobias Barreto já não é mais, pois estamos juntos todo o tempo. Em compensação, a falta que os amigos de São Paulo (a terra do abraço) me faz é, confesso de pé junto, indizível – além da saudade recolhida que sinto pelos da Escócia. A gente não pode mesmo ter tudo, e nem a todos, especialmente ao mesmo tempo. Mas a gente pode trazer momentos vividos como riquezas adquiridas e sobretudo, a gente pode viver cada momento presente como o maior presente que poderíamos receber. Na tradução do episódio da morte e ressurreição de Lázaro, feita por João, se pode notar que Jesus tinha plena ciência, desde o momento em que foi avisado que seu amigo Lázaro estava doente, da ressurreição dele.

“Ao ouvir isso, Jesus disse: “Essa doença não acabará em morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela””. João 11.4

“Então [Jesus] lhes disse claramente: “Lázaro morreu””. João 11.14

Mas nos versos 33 a 36 constatamos a comoção de Jesus diante da morte do amigo Lázaro e da dor de sua família e próximos:

“Ao ver chorando Maria e os judeus que a acompanhavam, Jesus agitou-se no espírito e perturbou-se. “Onde o colocaram?”, perguntou ele. “Vem e vê, Senhor”, responderam eles. Jesus chorou. Então os judeus disseram: “Vejam como ele o amava!””

A pergunta que me surge é: Por que Jesus chorou, se ele sabia do propósito daquela morte? A resposta que me vem é: Porque ele vivia um momento de cada vez. Porque naquele momento ele tinha um amigo morto, uma família enlutada e extremamente entristecida. Porque aquele era um momento de dor. E a dor faz parte da vida. E as lágrimas são a forma mais realista de vivenciar esse aspecto não inerente à humanidade. É disso que fala Eclesiastes 3.4: “tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar”. Cada momento tem seu próprio valor, sua própria beleza, alegria, saudade, dor, e etc. E a vida é feita deles. Às vezes perdemos tanto, porque nos preocupamos em demasia com o que não temos ou gostaríamos de ter, que não somos capazes de nos alegrarmos com o que temos hoje, neste exato momento, ao redor de nós! É como escreveu Ed René Kivitz, em Vivendo com Propósitos: “A vida faz sentido quando conseguimos extrair o sentido de cada momento, cada kairós, cada dia.”
Se andamos ansiosos demais pelo que não temos, ou pelo que desejamos ter e ainda não temos, espero que neste momento de virada de ano, possamos usufruir da disposta graça de olharmos para a família, ou amigos, ou conhecidos, ou até para os desconhecidos que temos do lado, e possamos ser gratos por eles. Que essa gratidão traga sentido ao nosso momento. Que o Senhor nos traga à memória a lembrança de que o cristianismo é uma religião de relacionamentos. E que nossas respostas quase sempre serão encontradas por nós quando nós decidirmos compartilhar nossos momentos, para chorarmos com os que choram e nos alegrarmos com os que se alegram.

Feliz 2011!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Orgulho e Ganância

“Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.” Mt 6.2-4

“E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.” Mt 6.5-6

“Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.” Mt 6.16-17

“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. "Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são! "Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e (a Mamom) ao Dinheiro.” Mt 6.19-24

É curioso como a vida pode ser irônica! Os judeus dos dias de Jesus o rejeitaram porque não encontraram nele o que esperavam. Um Messias, que viria para restabelecer o reino de Davi, o qual segundo a tradição judaica seria um reino físico, de poderio bélico suficiente para destruir o império romano e restaurar-lhes a liberdade enquanto nação livre e soberana. A Bíblia não nega a vinda desse reino físico, mas o convite que Jesus fazia nas empoeiradas ruas da Judéia era para uma vida onde a realidade daqui e de agora não fosse empecilho para a contemplação e vivencia de um Reino transcendente, onde o que não se vê naturalmente vale mais do que o que se vê. Com muita tristeza, nós temos que admitir mais uma vez que a história se repete. Enquanto a proposta de recompensa do evangelho fala de expansão de consciência, restauração da imagem de Deus no homem, conhecimento do Senhor, realização no serviço, felicidade fundamentada na prática do amor visando o bem coletivo, na paz que excede todo entendimento, na provisão proveniente da graciosa bondade do Altíssimo, e etc., a nossa espiritualidade pende cada vez mais em direção a uma satisfação individual, realização própria, prosperidade exclusiva para uma classe seleta de gente especial. Gente que oferta com fé num retorno garantido, como se Deus ou suas bênçãos estivessem expostos numa feira livre à venda pelo melhor preço. Gente sem sede de Deus e de sua intimidade, mas cheia de fome por glória, por status de santos, de piedosos, de cheia de poder e autoridade, de sócios dos depósitos celestes.
Que o vento do Senhor sopre sobre nós, sua Igreja. Para que o nosso coração se volte novamente para os princípios da fé genuína em Cristo Jesus, o Filho de Deus. Que ainda nos reste disposição para repensarmos, e voltarmos ao Caminho de origem, de modo que nossa vida se torne numa evidencia da veracidade das palavras do sábio:

“Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento, pois a sabedoria é mais proveitosa do que a prata e rende mais do que o ouro. É mais preciosa do que rubis; nada do que você possa desejar se compara a ela. Na mão direita, a sabedoria lhe garante vida longa; na mão esquerda, riquezas e honra. Os caminhos da sabedoria são caminhos agradáveis, e todas as suas veredas são paz. A sabedoria é árvore que dá vida a quem a abraça; quem a ela se apega será abençoado.” Pv 3.13-18 “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” Pv. 9.10

Que as “demais coisas” não nos roubem o foco do que é primordial. Que a benção não nos seja mais valiosa que o abençoador. Que Mamom nunca encontre lugar no altar da nossa vida/casa/igreja/família. Que nós nunca venhamos ser contados de fora, acercados aos cães dos quais o Senhor proferiu por meio do profeta Isaías:

“Venham todos vocês, animais do campo; todos vocês, animais da floresta, venham comer! As sentinelas de Israel estão cegas e não têm conhecimento; todas elas são como cães mudos, incapazes de latir. Deitam-se e sonham; só querem dormir. São cães devoradores, insaciáveis. São pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria. "Venham", cada um grita, "tragam-me vinho! Bebamos nossa dose de bebida fermentada, que amanhã será como hoje, e até muito melhor!” Is 56.9-12

domingo, 28 de novembro de 2010

A felicidade nossa de cada dia dá-nos hoje.

"Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.” Mateus 5.1-3.

Alcançar a felicidade é a maior ambição do ser humano desde sempre. Todos desejam ser feliz. O dicionário Aurélio define felicidade como “Bom êxito; Sucesso”. Em outras palavras, a felicidade corresponde a um estado contínuo de satisfação plena. É uma sensação de prazer resultado de realização total, portanto, emocional, financeira, social, espiritual, e etc. Essa é a maior riqueza que qualquer pessoa pode ter. Na Bíblia, a palavra à qual o termo “felicidade” traduz é ashréi, do hebraico, ou makarioi, do grego. A expressão em hebraico pode ser entendida como marchar rumo a Iahveh. A expressão em grego é mais hedonista, embora também, inacessível ao homem, pois é geralmente usada para representar a felicidade dos deuses. O que nos permite pontuar que ser feliz, biblicamente falando, é estar inserido na felicidade do próprio Deus; é caminhar em direção ao Reino de Deus, ou dele ser parte. Em Uma Ortodoxia Generosa, Brian McLaren define o reino de Deus como “o sonho de Deus, o desejo, o anseio e a esperança de Deus para a criação – como as esperanças e sonhos dos pais para seu filho amado.” Portanto, considerando o ensinamento de Jesus vemos que Deus quer que nós sejamos felizes. Mas a felicidade não é fruto da conquista de coisas, de pessoas, de relacionamentos, ou status social ou econômico, e etc. A felicidade diz respeito ao modo como escolhemos viver o nosso dia-a-dia. Ao tipo de relacionamento que decidimos ter com nossos cônjuges, irmãos e irmãs, colegas de trabalho, com o nosso próximo de modo geral. Na verdade, para sermos felizes precisamos participar da felicidade de Deus. Precisamos comungar com os seus sonhos e ideais. Precisamos ser súditos legítimos do seu reino. Ser feliz é viver conforme a imagem de Deus, porque fomos criados à sua imagem, segundo sua semelhança. E como escreveu Ed René Kivitz em Outra Espiritualidade, “A vida de acordo com a imagem de Deus, entretanto, não é um lugar aonde se chega, mas sim o jeito como se vai. Mais importa a caminhada do que o ponto de chegada.” Jesus ressaltou no texto acima, que viver conforme a imagem de Deus é ser pobre em espírito, posto que a estes é que pertence o reino de Deus.
Neste ponto temos que atrelar uma realidade à outra. Felizes são os pobres em espírito. Certo dia, numa discussão sobre quem seria o maior dentre os que seguiam Jesus, o Senhor falou: “Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. Mt 18.4”. Algumas linhas depois, aqui em Mateus, achamos uma afirmação ainda mais contundente: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas. Mt 19.14”. Ou seja, o pobre em espírito é aquele que se faz humilde como uma criança. Mas pra ficar um pouco mais claro, esta mesma discussão segundo o relato de Lucas nos brinda com uma sentença incrivelmente esclarecedora: “Pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior. Lc 9.48”. Quando Paulo escrevia sua primeira carta aos coríntios sobre seu chamado ele disse: “Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. 1Co 15.9”. A despeito de toda sua importância para a Igreja dos seus dias, que Paulo sabia que tinha, ele se fazia o menor dentre os que serviam porque tinha uma clara visão sobre si mesmo. Em Romanos 7.24-25 ele exclamou: “Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” Paulo sabia que sua autoridade para ser servo do reino de Deus entre os seus próximos vinha exatamente de seu alto-conhecimento. Vinha do fato de se reconhecer como um miserável pecador, por mais devotado e desejoso em obedecer que fosse. O apóstolo Paulo sabia que a sua esperança e redenção estavam apenas na misericordiosa graça de Deus, revelada naquele nos ensinou, ele mesmo, a perdoarmos ao nosso próximo tantas vezes quantas nós gostaríamos de ser perdoados. A perdoar sempre. 70 x 7. Porque isso é amar o próximo como a nós mesmos. Apenas uma conversa sincera com o espelho nos aponta o caminho em direção ao nosso próximo. Apenas essa conversa honesta com nós mesmos pode nos conduzir a um estado de alto-humilhação que nos permite amar com o cuidado e com a paciência com que Deus ama. E apesar de não se poder amar sem dor, sem muita dor, o caminho das pedras para a felicidade nossa de cada dia é esse. Porque felizes são os que tem a humildade de serem honestos consigo mesmos, ao ponto de se identificarem com a fraqueza do outro em misericórdia, pois destes é o Reino dos céus.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um olhar pra trás

Ouvir os conselhos de Salomão é, não apenas um rico caminho para ser sábio, mas também, de antemão, uma demonstração de sabedoria. Aliás, já foi dito que ao que tem, mais se lhe será dado (Lc 19.26). Parar e “ouvir” as orações de Salomão, então, é como se deparar com um baú de tesouros.
Na oração de dedicação do Templo (I Reis 8.22-61), ele sai mais uma vez na vanguarda, demonstrando que sua compreensão a respeito de Deus vai muito além da compreensão de muitos de nós, mesmo depois de Jesus Cristo. Enquanto ainda, literalmente, mistificamos a figura dos nossos templos, e principalmente, do altar ou púlpito, Salomão já dizia:

“Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!” (I Rs 8.27).

O rei Salomão também faz menção do caráter santo e misericordioso do Senhor. E é facilmente possível ver seu raciocínio quanto ao favor de Deus demonstrado ao seu povo, no fato de não desistir deles, quando estes se afastavam dele por causa do pecado:

“Quando Israel, o teu povo, for derrotado por um inimigo por ter pecado contra ti, e voltar-se para ti e invocar o teu nome, orando e suplicando a ti neste templo, ouve dos céus e perdoa o pecado de Israel, o teu povo, e traze-o de volta à terra que deste aos seus antepassados. Quando se fechar o céu, e não houver chuva por haver o teu povo pecado contra ti, e, se o teu povo, voltado para este lugar, invocar o teu nome e afastar-se do seu pecado por o haveres castigado, ouve dos céus e perdoa o pecado dos teus servos, de Israel, o teu povo. Ensina-lhes o caminho certo e envia chuva sobre a tua terra, que deste por herança ao teu povo. Quando houver fome ou praga no país, ferrugem e mofo, gafanhotos peregrinos e gafanhotos devastadores, ou quando inimigos sitiarem as cidades, quando, em meio a qualquer praga ou epidemia, uma oração ou súplica por misericórdia for feita por um israelita ou por todo o Israel, teu povo, cada um sentindo as suas próprias aflições e dores, estendendo as mãos na direção deste templo, ouve dos céus, o lugar da tua habitação. Perdoa e age; trata cada um de acordo com o que merece, visto que conheces o seu coração. Sim, só tu conheces o coração do homem. Assim eles te temerão durante todo o tempo em que viverem na terra que deste aos nossos antepassados.” I Rs 8.33-40

Salomão faz uma oração de súplica, embora estivesse dedicando ao Senhor o templo mais belo e rico que ele poderia oferecer. A sua oferta não serviu de recurso para crescimento de seu ego, pelo contrário, serviu para uma profunda meditação junto a todo o povo de Israel, sobre quem Deus é, e em consequência, sobre quem, eles mesmos, eram:

“Quando pecarem contra ti, pois não há ninguém que não peque” (v.46a); “Perdoa o teu povo, que pecou contra ti” (v.50a).

Sua riqueza de consciência é notória mesmo depois de sua oração. Salomão se colocou perante o altar do Senhor e abençoou o povo em alta voz.

“E pôs-se em pé, e abençoou a toda a congregação de Israel em alta voz, dizendo: Bendito seja o Senhor, que deu repouso ao seu povo Israel, segundo tudo o que disse; nem uma só palavra caiu de todas as suas boas palavras que falou pelo ministério de Moisés, seu servo. O Senhor nosso Deus seja conosco, como foi com nossos pais; não nos desampare, e não nos deixe. Inclinando a si o nosso coração, para andar em todos os seus caminhos, e para guardar os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos que ordenou a nossos pais. E que estas minhas palavras, com que supliquei perante o Senhor, estejam perto, diante do Senhor nosso Deus, de dia e de noite, para que execute o juízo do seu servo e o juízo do seu povo Israel, a cada qual no seu dia. Para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro. E seja o vosso coração inteiro para com o Senhor nosso Deus, para andardes nos seus estatutos, e guardardes os seus mandamentos como hoje.” (I Rs 8.55-61)

Salomão fez de um modo bem diferente do que a maioria dos cristãos tem aprendido a fazer em nossos dias. Ele não confundiu o seu papel com o de Deus. Ele não ousou declarar “Eu te abençôo assim, ou daquele jeito”, ainda que em nome de Deus. Muito pelo contrário, ele exaltou com gratidão a fidelidade do Senhor, em cumprir todas as suas promessas, e suplicou ao Senhor sua presença constante, bem como, seu favor de fazer o coração do povo sempre voltar-se a Ele. Pra terminar, Salomão ainda instruiu o povo a inclinar seus corações em integridade ao Senhor, como quem lembrasse que o favor do Senhor deveria ser desejo deles também. E isso foi o bastante.
Acho que agente precisa olhar mais pra trás. Acho que olhando mais pra trás, agente terá mais êxito enquanto seguimos pra frente.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pra mudar...

“O povo de Judá e de Israel era tão numeroso como a areia da praia; eles comiam, bebiam e eram felizes. E Salomão governava todos os reinos, desde o Eufrates até a terra dos filisteus, chegando até a fronteira do Egito. Esses reinos traziam tributos e foram submissos a Salomão durante toda a sua vida. Ele governou todos os reinos a oeste do Eufrates, desde Tifsa até Gaza, e tinha paz em todas as fronteiras.” 1 Reis 4.20-21,24.

Logo que subiu ao trono, o rei Salomão recebeu do Senhor a graça de pedir o que quisesse, e ele pediu sabedoria. Como resposta, Salomão recebeu não apenas o que pediu, mas também riqueza, fama, e uma promessa de longevidade, caso permanecesse nos caminhos do Senhor, como foi com o rei Davi, seu pai (1 Rs 3.5-14).

A sabedoria de Salomão, segundo os escritos bíblicos, foi extraordinária. Mas um incrível resultado dessa sabedoria foi a paz, que ele pôde promover em todo o seu domínio. A Bíblia relata que os limites do reino de Salomão ultrapassaram Judá e Israel. Ele governou inclusive sobre os filisteus, tradicionais inimigos do povo de Deus. Mas diferente de outros tempos, todos os reinos sob o governo de Salomão, e mesmo em suas fronteiras, tinham paz.

Quando estava lendo esses textos de 1 Reis, eu lembrei de uma frase da senadora Marina: “Existe um milagre do preparo. E o primeiro milagre do preparo está em ter capacidade de pedir a Deus força e coragem para não nos acomodarmos.” Pensei então, que a disposição de nos acomodarmos é um dos primeiros, ou principais sintomas de nossa falta de sabedoria na vida. Quando meu papel em minhas relações não promove a paz, o acolhimento, a conciliação em detrimento das diferenças, então precisamos de um milagre, aquele da capacidade de pedirmos a Deus força e coragem para mudar. Precisamos da sabedoria que vai além de nossas palavras. Que agrega o coração das pessoas sob uma atmosfera de respeito, aceitação e de amor prático. Essa foi a oração de Salomão. Essa precisa ser a minha, a nossa oração.

“Dá-nos Senhor, um coração sábio. Um coração cheio de força e coragem pra mudar hoje. Pra ter um olhar de misericórdia para com aqueles que ainda não tem a capacidade de buscar e viver essa mudança. Que a minha mudança seja promotora da mudança de outros. Em nome de Jesus, o Cristo de Deus. Amém.”

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fortalezas de Algas

“Dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor, o seu Deus; e disse: "Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor. Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam um turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Eu disse: Fui expulso da tua presença; contudo, olharei de novo para o teu santo templo? As águas agitadas me envolveram, o abismo me cercou, as algas marinhas se enrolaram em minha cabeça. Afundei até chegar aos fundamentos dos montes; à terra embaixo, cujas trancas me aprisionaram para sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da sepultura, ó Senhor meu Deus! "Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo. "Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia. Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do Senhor". E o Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme.” Jonas 2

Jonas foi um profeta em Israel nos dias de Jeroboão II. Ele recebeu uma ordem de Deus em relação à Nínive, uma cidade da Assíria, mas desobedeceu e tentou fugir do Senhor, indo para Társis, cidade ao sul da Espanha. O resultado da desobediência de Jonas está descrito no texto acima. Porém, nesse texto há muito mais do que um relato histórico do ocorrido. Ele é a oração do profeta, submergido em profundezas de pensamentos, de dor, de desespero e de arrependimento.
A vida, definitivamente, não pode ser vivida do tipo “vamos ver no que vai dar”. Ela é muito dinâmica, e as possibilidades de caminhos a serem trilhados são diversas. Por isso mesmo a nossa caminhada é feita de escolhas. De decisões que precisão ser feitas e refeitas constantemente. Se nós não as fizermos, a vida as fará por nós. E a possibilidade de nos tornarmos reféns delas é iminente. Às vezes nos deparamos em situações semelhantes à situação do profeta. Perdidos em escolhas mal feitas, ou mal orientadas, ou mesmo na escolha de nos omitirmos a fazê-las, e quando nos damos conta, já fomos longe demais; nossas cabeças já foram totalmente tomadas por algas marinhas que se enrolam na forma de maus pensamentos fixos, desejos perversos ou pervertidos, vícios, desesperança, revolta e até ódio. E o pior de tudo, é que mesmo frequentando os mesmos redutos religiosos de sempre, somos gradativamente atraídos ao esquecimento do Senhor; nossa relação com Deus tornasse apática, ainda que, na maioria das vezes, pareça ser a única coisa que nos resta. Neste ponto, já não somos mais de nós mesmos. Porém não no sentido que Paulo falou, mas no sentido oposto. Somos apenas escravos, aprisionados dentro de uma fortaleza de dores, de mazelas espirituais, com uma inquietação interior e uma fome insaciável de sentido existencial. Na sua oração, o profeta Jonas declara: "Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo.” Sem dúvida, Deus nos permite, muitas vezes, ir até ao “ventre da morte”, antes de nos lembrarmos dele, e de que nosso clamor encontre sua presença. De outra forma, com que coração nós tornaríamos à sua presença? Com o mesmo coração imaturo e displicente de antes? Em meio às profundezas Jonas foi pertinente ao perguntar: “contudo, olharei de novo para o teu santo templo?” Voltarei a estar em sua presença?... A verdade é que a dor que sentimos, de alguma forma, é compartilhada pelo Senhor. Ela não é só nossa ("Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; ando de luto; o espanto se apoderou de mim." Jeremias 8:21). Mas se a ferida se fez necessária, ele a fará, para que possa sarar o mal maior que a provocou. O desejo de Deus, é que o seu desejo seja o nosso. E o seu desejo é que os nossos olhos e coração não estejam voltados para nada que possa tomar seu lugar. É que a nossa vida seja como uma canção de gratidão a ele. A canção que só os que o conhecem aprendem a cantar. E para os que se encontram em fortalezas... não há prisões que ele não possa romper, nem paredes que resistam à sua presença. À esta, que é o nosso maior presente, e que deve ser o nosso maior desejo.

"Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas. Depois de dois dias ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em sua presença. Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra." Oséias 6:1-3

domingo, 30 de maio de 2010

Enviados ao Mundo

“Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo.” Jo 17.15-18

Horas antes da crucificação, Jesus conversa com seus discípulos dando-lhes instruções de vida, falando-lhes também, sobre sua partida, sobre o envio do Ajudador, e encerra esse momento com uma oração ao Pai, que hoje é conhecida como a “oração sacerdotal de Jesus”. Ele orou por seus discípulos. Os da sua época, e os que viriam depois deles. Da oração de Jesus, os três versículos acima citados, neste momento, me prendem a atenção de modo especial. A partir deles aprendo, pelo menos, as seguintes lições:

• Não somos do mundo.
• Somos santificados do mundo pela Palavra.
• Somos enviados ao mundo.

A primeira frase desses versos é impactante: “Não rogo que os tires do mundo”. Jesus tinha uma cumplicidade tão grande com o Pai, que, apesar de amar profundamente os seus discípulos, e sabendo que continuando no mundo eles sofreriam aflições, por amor ao mundo, não pediu ao Pai que os tirasse do mundo, antes, que no mundo, eles fossem protegidos do Mal (Jo 16.33; 3.16). Para Jesus estava claro que ele não era do mundo e, portanto, que os seus seguidores também não eram. Porque embora Deus tenha amado o mundo de uma maneira tamanha, e por isso tenha escolhido não condenar o mundo, a sua atitude também não foi de condescendência com o sistema do mundo. Deus veio em Jesus, para salvar o mundo do seu estado de perdição (Jo 3.17). Não somos do mundo, embora estejamos no mundo. O apóstolo João ressaltou essa diferença entre ser do mundo e estar no mundo, através do texto: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1Jo 2.15) O amor do Pai, vivo, dentro de nossos corações, é a prova de que não amamos o sistema do mundo e os seus atrativos. Jesus, sábio senhor de seus discípulos, mais uma vez apela para o Pai: “que os protejas do Maligno”. Jesus sabe que embora não sejamos do mundo, no mundo, não permaneceríamos santos, separados do mundo, senão pela graça do Pai, que nos santifica por sua palavra. É a transformação da nossa mente pela palavra que nos faz viver segundo a vontade de Deus no mundo. Livres das cadeias do Maligno sobre as nossas mentes e corações; sobre as nossas idéias e emoções. É o amor de Deus, constantemente renovado em nossos corações pela palavra, que nos permitirá vivermos no mundo, não como do mundo, mas como enviados ao mundo. Porque Deus enviou Jesus ao mundo, para salvar o mundo (Jo 3.16-17). E Jesus, por sua vez, assim como o Pai o enviou, nos enviou também. O mundo precisa de luz. Minha casa precisa de luz. Minha escola precisa de luz. Meu trabalho precisa de luz. Meus amigos precisam de luz. O mundo clama desesperadamente por luz. E Jesus nos envia, para que todo aquele que nele creia, não continue morrendo em seus pecados, mas encontre a vida eterna.

“Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” Mt 5.14-16

domingo, 9 de maio de 2010

O Poder Para Perdoar

“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” Mt 6.12

Por muito tempo esse trecho da oração modelo ensinada por Jesus me incomodou. Não porque eu tivesse problemas em perdoar, embora isso não seja de todo uma inverdade, mas porque esse texto me parecia expor uma situação condicional que destoava da mensagem da graça de Deus. Parece contraditório, por exemplo, ver que até a fé para a salvação, que é o princípio de nossa caminhada em Deus é dom divino (embora, de alguma forma, esse processo também implique em responsabilidade humana), segundo a carta de Paulo aos efésios, capítulo segundo, verso oito, e entendermos, em contrapartida, que Jesus esteja ensinando que a condição para nós recebermos o perdão de nossos pecados seja perdoar primeiro! Desta forma, é como se nós tivéssemos de comprar o perdão para nós mesmos, usando como moeda o perdão que liberamos aos outros. E isso, não parece em nada com o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Pensando sobre essa questão, eu fui levado ao texto em Mateus 5.3, onde Jesus ensina: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” Antes de qualquer coisa, penso que seja preciso ressaltar que quando Jesus se refere ao reino dos céus, ele não está falando da vida após a morte, ou ao arrebatamento. Ele está falando de viver os princípios e a vida do reino dos céus desde já, posto que a vida eterna nos tenha sido outorgada por meio dele, no exato momento do nosso novo nascimento. Segundo Jesus, devemos desejar e orar para vivermos e expandirmos a influencia e o domínio do reino de Deus agora – “Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Mt 6.9-10. Voltando a Mateus 5.3, um novo questionamento me veio à mente. O que vem a ser “humilde de espírito”? Que exemplo concreto eu poderia ter? E então, lembrei da mulher pecadora, de Lucas 7.36-50. Faço questão de transcrever o texto:

Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa. Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma 'pecadora', trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma 'pecadora'“. Então lhe disse Jesus: "Simão, tenho algo a lhe dizer". "Dize, Mestre", disse ele. "Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?" Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus. Em seguida, virou-se para a mulher e disse a Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados; pois ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama". Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados". Os outros convidados começaram a perguntar: "Quem é este que até perdoa pecados?" Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".

Embora o convite do fariseu a Jesus, para jantar, seja possivelmente uma demonstração de que ele reconhecia alguma superioridade em Jesus, era honroso lavar os pés empoeirados dos convidados, o que era feito pelo escravo de serviços mais básicos. O beijo também era uma demonstração de respeito e estima, assim como o óleo era um reconhecimento da unção de Deus sobre o ungido. Mas Simão não fez nada disso! Na verdade, parece que o fariseu sondava mais do que amava. Aquela mulher, no entanto, muito amou. Quando Jesus respondia o silencioso, mas petulante questionamento de Simão, ele não estava dizendo que ele não tinha muito do que ser perdoado, mas que a diferença entre ele e aquela mulher, é que ela reconhecia o seu estado. Uma vez reconhecendo, ela se arrependeu dos seus pecados, e achou perdão. A atitude daquela mulher foi de humildade de espírito, o que não poderia resultar em outra coisa, senão em gratidão. E quem é grato por receber misericórdia, transborda misericórdia. Ou seja, aquele que mais perdão recebe, mais grato e condescendente se torna, porque aprende a amar. Aprende a se ver no outro, a se identificar com as limitações do outro. Leão Tolstoi, um pacifista russo, certa vez disse: “A prova de nossa obediência aos ensinamentos de Cristo é a conscientização de nosso fracasso em alcançar um ideal perfeito. O grau em que nos aproximamos dessa perfeição não pode ser visto; tudo o que podemos ver é a extensão do nosso afastamento.” Em outras palavras, quanto mais nos aproximamos de Deus, mais percebemos a nossa distância dele e, portanto, o quanto somos dependentes de sua misericórdia e graça. A conscientização de nosso estado, jamais nos permitirá julgar o nosso próximo como um inferior a nós. Mas é exatamente esse julgamento que fazemos quando negamos perdão.
A este ponto, penso ter progredido um pouco na minha compreensão de Mateus 6.12. Hoje, quando leio: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”, eu leio: Posto que nós temos reconhecido que somos tão falhos quanto aqueles que nos ofendem, e por isso lhes retribuímos com a misericórdia que de Ti recebemos, humildemente continuamos esperando por este favor da tua graça. Na verdade, o simples fato de podermos nos colocar diante de Deus na certeza de que Ele nos está ouvindo, já é uma clara demonstração do seu perdão previamente disponibilizado. Porém, nós só conseguimos colher os frutos deste perdão, quando temos um coração humilde, isto é, quando temos a consciência de que estamos na mesma condição dos nossos ofensores.
Finalmente, que a nossa oração seja sempre: “Oh Senhor, encontre em mim espírito humilde, espírito de quebrantamento e dependência, e me perdoe do meu pecado, assim como humilde e obedientemente, tenho perdoado os que me tem ofendido”. Amém.

domingo, 25 de abril de 2010

Deus pode nos fazer avançar em Santidade

E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito. 2Co 3.18

Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como foram ensinados, transbordando de gratidão. Cl 2.6-7

Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus. 2Co 7.1

Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor.
Hb 12.14

Ao pé da letra, ser santo é ser separado. E biblicamente falando, ser santo é ser separado por e/ou para Deus. A separação de Deus é a conseqüência direta da presença do pecado. Portanto, a santificação é o processo de eliminação desse impedimento. O primeiro passo desse processo é judicial. É a chamada "santificação posicional". Quando o crente é definitivamente liberto da condenação eterna, por meio da morte expiatória de Jesus Cristo (Hb 10.10; 1Co 1.2; 6.11), tornando-se assim, "herdeiro da justiça por meio da fé" (Hb 11.7; Ef 2.8). O segundo momento do processo de santificação é chamado de "santificação prática", que é a projeção externa da nova posição do crente. Neste momento, todo filho autêntico é convocado a manifestar os resultados da transformação que o Pai está efetuado nele por meio do Espírito Santo. A atitude do filho de andar conforme o Pai resultará em maior identificação com o Pai a cada dia, isto é, resultará em maior predisposição e inclinação para a justiça, ou para uma vida de amor prático, à semelhança de Jesus (Cl 3.8-10; Hb 12.10). O terceiro e último estágio é chamado de "glorificação", quando seremos completamente transformados à semelhança do Senhor Jesus, na sua vinda. Somente com a glorificação o crente experimentará a santificação plena, quando então a tentação não mais existirá, nem a susceptividade ao pecado. (Ef 5.25-27; 1Jo 3.2; 1Co 15.51-53).
A santificação é um trabalho de Deus, mas também é uma escolha nossa. Somos ativos no processo, visto que podemos nos aplicar ao trabalho do Senhor em nós, ou podemos ser negligentes a ele. Paulo escrevendo aos Romanos, no capítulo 12 verso primeiro, os instrui a se "oferecerem" a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável. Em outras palavras, Paulo instruía aos crentes a se submeterem voluntariamente aos processos de Deus para a vida deles. No verso seguinte ele ensina como essa entrega se configura, na prática: "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".
Em resumo, Deus por meio do Espírito Santo é quem executa a santificação nos crentes. Mas esse processo se dá em nós através do exercício da fé. E o termo "exercício" não é casual! Tiago em sua carta diz que "a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta" (Tg 2.17). Portanto, assim como em um momento específico recebemos Jesus por meio da fé, em fé devemos andar nele (Cl 2.6-7). E isso implica em andar em oração (Lc 18.1; Mt 6.5-13; Tg 5.16), em leitura e estudo da Palavra (Mt 4.4; Jo 8.31; Jo 17.17; Rm 10.17), e na comunhão com os santos, a Igreja de Jesus Cristo (Mt 16.18; 1Co 1.1-2; Ef 4.1-13; Hb 10.25).

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O meu prazer, e o meu sustento.

No verão de 2005 (verão escocês, inverno no Brasil), já havia um ano que eu estava morando na Escócia. Eu estava como voluntário no projeto TentMakers, de Leith Batist Church, em Edimburgo, e precisa trabalhar para me manter. Porém, as leis britânicas só permitiam que estrangeiro com visto de estudante trabalhasse quatro horas/dia, o que era insuficiente para o suprimento das nossas necessidades. No entanto, era permitido que o estudante aproveitasse os períodos de férias, inclusive as férias de verão, o maior período do ano, para trabalhar tanto quanto lhe fosse possível. E nós buscamos aproveitar essa chance. A liderança do projeto sempre foi muito gentil, e nos ajudava a conciliar as atividades evangelísticas, e etc., com o tempo de trabalho extra, de modo que pudéssemos juntar alguma grana pra passarmos o ano seguinte, até as próximas férias, sem tanto sufoco. Eu saía cedo de casa, e geralmente voltava à noite. Trabalhava numa empresa de limpeza que prestava serviços para a prefeitura da cidade. No período regular eu era responsável pela limpeza de todo um andar da Portobello High school, a maior escola de Edimburgo. Todo o serviço tinha que ser feito em quatro horas, o que era um grande desafio diário pra apenas uma pessoa. Nas férias, nós éramos deslocados para outras escolas ou escritórios que não haviam sido tão bem cuidados durante o período letivo, ou para a limpeza de escadas dos prédios habitacionais da cidade, em todos os bairros. Nas escadas, geralmente ficávamos em três pessoas. A primeira descia varrendo, a segunda lançando um líquido detergente com uma espécie de bomba, e a terceira pessoa passava mopp. Os prédios tinham de um a cinco andares, e nós fazíamos dezenas por dia. O dinheiro pra alimentação era pouco, por isso, geralmente comíamos sanduiches de patê de sardinha que levávamos de casa e algum iogurte, claro, sempre dos mais baratos. O trabalho em si era digno, como todo trabalho o é. Mas alguns detalhes o tornava até humilhante. Éramos obrigados a fumar o dia inteiros durante o tempo em que estivéssemos na van, as às vezes, enquanto subíamos e descíamos limpando as escadas. Os palavrões e algumas conversas também nos faziam contorcer o espírito dentro em nós, sem falar das vezes que tivemos que fazer o trabalho sozinhos, enquanto colegas nativos descansavam. Antes do término daquele mês de “férias”, nós estávamos completamente esgotados. Física e emocionalmente. Todo o corpo doía, e volta e meia alguém aparecia com coriza, ou espirrando, denunciando o desgaste físico. No final de um dia, já quando esse período de férias se encerrava, nós recebemos uma ligação dizendo que deveríamos nos deslocar para um determinado lugar para fazemos três prédios que outra equipe havia deixado para trás. Nós estávamos acabados! Quase choramos quando recebemos o recado. Não restava mais força alguma. E eu me lembro que quando eu desci da van e coloquei minhas mãos sobre os instrumentos, pensei: “Senhor, eu preciso que você faça alguma coisa. Por favor, eu não sei o que. Mas faça alguma coisa, porque eu não agüento mais!” Imediatamente, o Espírito Santo começou a sussurrar no meu coração:

Quando os sonhos se frustram
Ou parecem não se realizar
Quando as forças se acabam
Tudo o que eu sei é Te adorar

Tua presença me aquieta a alma
E me faz ninar
Como um bebê que não precisa se preocupar
A minha vida escondida em tuas mãos está
Oh, meu Deus! Em Ti eu posso descansar

A esperança renasce
E a certeza de que perto estás
Tua paz me invade
Pois tudo o que sei é Te adorar
É Te adorar


Eu cantarolei com ele, em meus pensamentos. E quando me dei conta, já estava de volta à van. O trabalho já havia sido feito, e eu nem tinha percebido. As dores pareciam que não estavam mais ali, embora elas estivessem. É difícil explicar o que aconteceu, mas de alguma forma, uma manifestação impar da presença do Espírito Santo me consolou, me fortaleceu, e me trouxe esperança, me fazendo descansar mesmo quando, quase que literalmente, eu ainda carregava pedras. Eu posso dizer de fato, que Sua presença não é apenas o meu prazer, ela também é o meu sustento.

"Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera." (Isaías 64:4)

Obrigado, Senhor!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Gadara X Sião

Certa vez Jesus atravessou o grande lago da Galiléia, em direção à Gadara. Lá, ele encontrou um endemoninhado, que por muitos anos andava nú e vivia entre túmulos. Jesus libertou esse homem de suas prisões espirituais, e os demônios que estavam nele, passaram para uma manada de porcos que se precipitou de um despenhadeiro abaixo. Os gadarenos se puseram tão aborrecidos com a perda dos porcos, e temerosos de perderem outras coisas mais, que não conseguiram se alegrar com a libertação do seu endemoninhado. Antes, pediram a Jesus que se retirasse de sua terra. Porque em Gadara, ao contrário do que é em Sião, coisas são mais importantes que pessoas.
Gadara é a terra onde ninguém é insubstituível, onde ninguém é importante, e as pessoas são descartáveis. Em Sião, cada pessoa é única, e uma vida vale mais que o mundo inteiro perdido.
Gadara é a terra do politicamente correto. Do tapinha nas costas, apesar da faca também. Sião é a terra do sim, sim, ou não, não.
Gadara é a terra da troca, da barganha, onde o valor de uma pessoa se mede pelo que ela pode oferecer. Sião é a terra onde o mundo, por mais mundo que seja, valeu o preço da morte do Unigênito do Pai.
Gadara é a terra da intolerância, onde o que vale é o retorno próprio e o bem-estar pessoal. Sião é lugar da misericórdia, do reconhecimento das limitações do próximo, por identificar-se também, com elas. É o lugar onde o outro é superior a nós mesmos, e onde a nossa outra face estará sempre exposta.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Senhor, ensina-nos a orar...

Ensina-nos a orar, foi o pedido feito pelos discípulos a Jesus, certo dia, após terem esperado ele encerrar seu momento de comunhão com o Pai por meio da oração. Desse pedido nasceu uma das mais belas lições sobre relacionamento com Deus e vida piedosa. Jesus foi um excelente mestre. Ele mostrou o conteúdo básico que uma oração deveria conter:

“Ele lhes disse: "Quando vocês orarem, digam: "Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em tentação". Lu 11.2-4

Em outras palavras, quando vocês orarem, reconheçam e reverenciem o caráter e a magnificência do Pai – Pai! Santificado seja o teu nome; submetam a sua vontade em vida à dele – Venha o teu Reino; apresentem diante dele as suas necessidades diárias – Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; apresentem-se como memorial de obediência e humildade, porque a desobediência é rebelião e idolatria, e quem nela vive não encontrará o favor do Pai – Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem; e admitam e busquem a completa dependência de sua graça – E não nos deixes cair em tentação.

Depois disso, o mestre usou uma parábola de um homem que importunava seu amigo, um pai de família, à meia-noite, já deitado com seus filhos, pedindo três pães para servir a uma visita que lhe tinha chegado de surpresa. Eis aí outra grande lição:

“Eu lhes digo: Embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da sua importunação – ou persistência – se levantará e lhe dará tudo o que precisar”. Lc 11.8

Persistência é a palavra chave, agora. Jesus não só ensina os discípulos a orar, mas faz questão de ensiná-los também, que a oração deve ser uma constante na vida deles. Faz parte do pão diário. É algo em que eles deviam persistir em fazer. Mas, porque a lição da persistência era tão importante? Porque Jesus fez questão de incluir esse item na lição sobre oração? Penso que a resposta está na sequência do texto:

"Por isso lhes digo: Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!" Lu 11.9-13

Jesus faz entender que frequentemente alguns empecilhos seriam encontrados. Porém, não empecilhos à resposta das orações por parte de Deus, porque ele sempre tem disposição de responder – Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus. Então, os empecilhos seriam, na verdade, da nossa parte. E quais seriam eles? Em suma, as consequências de não estarmos cheios do Espírito Santo. Porque observem que depois de toda uma lição sobre oração, ou seja, de como devemos nos apresentar diante de Deus, de como devemos lhe apresentar nossas necessidades, etc., e depois de falar sobre persistência, Jesus diz: quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir! Ou seja, o propósito final de nossas orações é o enchimento do Espírito Santo, da plenitude de Deus! O que Jesus está dizendo é que nós pedimos, pedimos, buscamos, buscamos, ou seja, persistimos em oração, até que por meio desta comunhão com o Pai, passamos a pensar como ele. Obtemos a mente de Cristo, por meio do enchimento com o seu Espírito Santo. E o resultado disso, é que todas as portas na nossa mente, e mesmo as portas das situações externas a nós, são abertas, porque a nossa busca agora é totalmente de acordo com os propósitos do Pai, de modo que mesmo no silencio conseguimos ouvir as voz do Senhor. É como quando andamos muito com um amigo. É natural que agente passe a compartilhar idéias, pensamentos. Tornamos-nos cada vez mais afins! Exatamente assim acontece conosco e Deus. Por meio da comunhão nos tornamos cada vez mais parecidos com ele. Cada dia mais cheios do seu Espírito. Cada vez mais cientes e cúmplices da vontade e direção de Deus pra cada coisa, em cada situação. Deste modo, não apenas nos tornamos mais sábios e vitoriosos, mas também mais cheios de paz, apesar das intempéries da caminhada.

Que a nossa busca seja diária. Que vivamos nossos dias, dizendo ao Senhor, por meio da nossa persistência: “Senhor, ensina-nos a orar!” E que essa comunhão em oração nos supra dele, para que prostrados, vivamos por ele.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A prática do/para o crescimento

“Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da Salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” Hb 5.7-9

Embora devamos viver com a consciência de que a nossa caminhada aqui, enquanto servos do Reino de Cristo, é mais importante do que o ponto de chegada, não podemos perder jamais o foco do propósito maior do nosso chamado, sob pena de invalidarmos todo o progresso ora alcançado, no processo da caminhada. Jesus, segundo o escritor aos hebreus, tornou-se o Autor da Salvação eterna para todos os que lhe obedecem por ter sido aperfeiçoado por meio de tudo que sofreu, ou passou, no processo de sua caminhada. O processo o aperfeiçoou, o amadureceu, para o cumprimento do seu chamado, a nossa salvação.

“sendo por Deus chamado sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.” Hb 5.10

O escritor da carta aos hebreus continua este quinto capítulo, e segue pelo sexto, advertindo os crentes sobre a necessidade da maturidade cristã, da continuidade do processo de crescimento na experiência na palavra da justiça. Mas um ponto muito importante é salientado no verso quatorze:

“Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, tem as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal.” Hb 5.14

O texto esclarece que o exercício de nossas faculdades para o discernimento do bem e do mal, é resultado direto de nossa prática na vida, conforme o que já havemos aprendido. Ou seja, o nosso crescimento está estreitamente ligado ao exercício prático do que já sabemos. O que significa dizer que a nossa parte no processo de santificação promovida por Deus em nós, ou na aquisição de autoridade, de poder, ou ainda, no crescimento em amor e piedade cristã, é a prática, é o exercício, é o serviço fundamentado na fé simples (6.1-3).
O escritor enfatiza ainda mais a fundamental importância do crescimento constante em maturidade cristã nos versos posteriores:

“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à desonra.” Hb 6.4-6

É óbvio que este texto não está falando de salvação, senão teríamos de afirmar que o crente que perdesse a salvação jamais poderia tornar a ser salvo (“é impossível outra vez renová-los para arrependimento”). Mas de acordo com todo o contexto, o escritor da carta, falando a convertidos, chama a atenção para o risco de se pôr a perder todo um processo de maturidade, ao parar no caminho, posto que o desenvolvimento da fé dependa da prática dela. Sem o exercício da fé, o cristão estagnado jamais poderá ser restaurado, ou renovado ao arrependimento de sua omissão ao processo de seu próprio crescimento e maturidade, uma vez que é a prática da fé que resultará em fé. Assim como é o amor prático que resultará em mais amor. E a prática de serviço relevante ao Reino que resultará no crescimento de uma vida de poder.

“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, (...).” Hb 6.9

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nós somos o que nós comemos!

"Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim." (João 6 : 57)

Parece que o chavão “Nós somos o que nós comemos” é realmente imbuído de uma sabedoria celestial. Cheguei a essa conclusão a partir do texto acima transcrito, de João 6, o qual me impactou bastante essa semana. Uma verdade muito forte invadiu o meu coração, e me fez questionar: “Do que eu tenho me alimentado, de fato?”
Uma simples preposição pode fazer toda a diferença. A expressão “viverá por mim” ganhou um sentido mais amplo, na minha visão do texto. Quando Jesus diz que o Pai o havia enviado e que ele vivia pelo Pai, ele estava dizendo que vivia para, ou em função do Pai. Assim, quem dele se alimenta, não apenas acha nele força para continuar vivendo, como nosso corpo, que encontra energia para o funcionamento dos órgãos vitais, bem como para o movimento dos músculos, multiplicação e reposição das células, etc., no que comemos. Na verdade, o que Jesus diz com essas palavras é: “quem se alimenta de mim, viverá para mim”. Ou seja, nós vivemos para aquilo do que nos alimentamos. Ainda em outras palavras, nós vivemos em função daquilo que nós nos alimentamos. Daí a pergunta: “Do que eu tenho me alimentado, de fato?” Eu entendi que se eu vivo em função daquilo que eu me alimento, eu me torno idólatra, toda vez que escolho me alimentar de qualquer outra coisa que não seja o Senhor. Paulo falou aos filipenses:

"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." (Filipenses 4 : 8)

Portanto, se eu escolho ocupar a minha mente e encher o meu coração com qualquer coisa, seja música, seja programa de TV, seja literatura, jogos, conversações, etc., que não tenham base no cumprimento da justiça divina em Cristo Jesus, estarei me prostrando perante deuses estranhos, para viver em função deles. “Do que eu tenho me alimentado, de fato?” Eu não tenho conseguido reagir perante o pecado? Mas, “Do que eu tenho me alimentado, de fato?” Mais uma vez vale ressaltar: Nós vivemos em função daquilo que nós nos alimentamos.

“quem de mim se alimenta, também viverá por mim." (João 6 : 57b)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

To shade you!

Psalm 121 is a wonderful song for worship. There, the writer reveals a trace, of how God moves Himself toward us. The Psalmist seems to be in trouble. He looks for help. He seems to be in a valley, with the whole mountains around him completely taken. He has no way to escape. And then, only then, he appeals to the Lord.

I look to the hills! Where will I find help?
It will come from the Lord, who created the havens and the earth. (vs. 1-2)


And, are we not just like this? First, we try everything… But when we see things are out of our control, we surrender. Though God lets life happen naturally, He never stops using all things for our good. He is always in control. He never dozes, or get drowsy, no matter if during the day or by night.

The Lord is your protector, there at your right side to shade you from the sun. (v. 5)

It's great! We can trust He is not just looking at us, and doing nothing. He is not still there ready to leave us, as soon as we do wrong. We can always turn ourselves to Him. We can trust Him at all time, because the Lord is our protector.

The Lord will protect you now and always wherever you go. (v. 8)


Para te proteger!

Salmo 121 é uma maravilhosa canção de adoração. Lá, o escritor revela uma pista de como Deus se move em nossa direção. O Salmista parece estar em apuros. Ele procura por ajuda. Ele parece estar num vale, com as montanhas completamente tomadas ao redor. Ele não tem meios de escape. E então, só então, ele apela para o Senhor.

Eu olho para os montes! Onde encontrarei socorro?
O meu socorro virá do Senhor, que criou os céus e a terra. (vs. 1-2)


Nós não somos exatamente assim? Primeiro nós tentamos de tudo... E quando nós vemos que as coisas fugiram do nosso controle, nós nos rendemos. E embora Deus permita que a vida corra naturalmente, Ele nunca deixa de usar todas as coisas para o nosso bem. Ele está sempre no controle. Ele nunca cochila, nem mesmo fica sonolento, seja de dia ou de noite.

O Senhor é o seu protetor, à sua direita, te cobrindo do sol. (v. 5)

Que maravilha! Nós podemos confiar que Ele não está apenas nos olhando, sem fazer nada. Ele não está lá, pronto para nos abandonar, assim que fizermos algo de errado. Nós sempre podemos nos voltar para Ele. Nós podemos confiar nele em todo o tempo, porque o Senhor é o nosso protetor.

O Senhor te protegerá agora e para sempre, onde quer que você vá. (v. 8)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tempos de provação

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação, preparada para se revelar no último tempo.” 1Pe 1.3-5

O Apóstolo Pedro anima os irmãos sob perseguição, lembrando-os de seu resgate, pela misericórdia de Deus Pai, por meio da ressurreição de Jesus Cristo, para uma viva esperança, uma herança que a nada poderia ser comparada, e que seria revelada, ou manifesta em sua plenitude, no último tempo. Cada um deles, ensina o apóstolo, está guardado pelo poder de Deus, para esta salvação, mediante a fé. Mas você conseguiu perceber? Os irmãos estavam sob perseguição, naqueles dias, e Pedro tentava animá-los com uma promessa, que embora fosse certa, só desfrutariam no último tempo. E talvez se nós fôssemos esses irmãos a nossa pergunta fosse: “E quanto tempo mais teremos que agüentar, até que o último tempo chegue? Porque nós estamos sob perseguição agora!” Na verdade, algumas lições são tão difíceis de serem aprendidas! Nós aprendemos fácil, fácil que o Senhor é o nosso pastor. Mas dificilmente lembramos que este mesmo pastor, embora nunca nos deixe não nos poupa de passarmos pelo vale da sombra da morte.
E Pedro continua:

“Nisto exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo que apurado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo, a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” 1Pe 1.6-9

Provavelmente a razão de tanta ansiedade para vivermos o paraíso hoje, de tanto imediatismo, de tanta gente que só prega vitória, cura só se “for agora”, etc., seja pelo fato de não entendermos a razão das provações. Bem verdade que o próprio termo não ajuda! Porque quando Deus – ou a vida – nos submete a provações, como aconteceu com Jó, Abraão, José, Davi, Paulo, João, e tantos outros, o Senhor não está testando-nos, com o propósito de conhecer o nosso coração, como se isso fosse algum mistério pra ele. Mas, como exemplificou o Apóstolo Pedro, Deus está submetendo o nosso coração ao fogo, para a purificação de toda impureza, a fim de enobrecê-lo! O próprio Jesus passou por vários sofrimentos e provações, aprendeu, cresceu com todas elas. Mas com certeza a maior de todas foi a própria cruz. Porém, é claro, Jesus não precisava ser purificado de nada. Mas na cruz, Jesus éramos “nós”. E nós, não estávamos sendo avaliados. Nós estávamos sendo redimidos, para nos tornarmos herdeiros da viva esperança. Hoje, no entanto, até que chegue o tempo da salvação plena, o último tempo, as provações vão servindo como ferramentas, nos quebrantando e nos limpando, de modo que a nossa fé vai se tornando mais pura e simples, a nossa alma mais salva, mais liberta, e o Senhor Jesus mais revelado, mais conhecido, mais glorificado e honrado, hoje, em/e através de nós.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Viver a vida – Feliz 2010!

Para alguns, o final de um ano e começo de outro é tempo bastante místico. A passagem é como a entrada em uma atmosfera espiritual completamente diferente da do ano anterior. Para outros, é apenas mais um anoitecer e amanhecer, como outro dia qualquer. Pra mim, essa ocasião tem um significado alternativo. Eu creio que nós precisamos de ícones, de representações, é assim que nós funcionamos. Nós sabemos que somos queridos, mas receber um presente, uma mensagem, ou um telefonema das pessoas que nos quer bem, no dia do nosso aniversário, por exemplo, é muito importante. Essas coisas são como ícones desse bem-querer. São representações. É como dois amantes, que tem consciência do seu amor um pelo outro, mas, que não conseguem experimentar nada melhor do que uma declaração ou um buquê de flores em dias normais, como expressão do amor que os uni. Pra mim, o final de um ano, e o começo de outro tem esse significado. É como um ícone, um acontecimento que me lembra que os meus dias estão passando, que minha vida está correndo, rápido, como um raio de luz. E eu aproveito a oportunidade pra ponderar um pouco a respeito do que eu tenho feito com os dias que me foram concedidos pelo Criador.

Durante todos esses dias eu estive lendo e pensando um pouco sobre o livro de Eclesiastes. Logo no começo, nos versos 12 a 14 do segundo capítulo, o sábio pensador nos declara:

“Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive. Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus. Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que os homens o temam.”

Fazer o bem, comer, beber, trabalhar, construir na vida... ser feliz. Para o pensador, não existe nada melhor pro homem, do que simplesmente ser feliz. E ser feliz não com o que não se tem, mas exatamente com o pouco ou muito que se tem. Porque em ambos os casos, a vontade de Deus está sendo manifesta. Para que nós o temamos. É simples assim, é apenas escolher ser feliz. É aceitar os caminhos da vida como dádiva, e não como martírio. Porque a nossa felicidade honra a Deus, mas o nosso sofrimento constante, não. No sétimo capítulo o sábio ainda nos instrui:

“Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se a si mesmo? Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo? É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos.” (Vs. 16 a 18)

Deixa os radicalismos pros que temem a religião, ou para os que não temem nada. Para os que temem a Deus, a proposta é o equilíbrio. Por que submeter-se a situações-prisões, relacionamentos-prisões, imposições-prisões? Por que destruir-se a sim mesmo? Por que entregar-se a uma vida de pseudo liberdade, sem propósitos, sem co-dependência, cheia de desamor e solitária? Por que morrer antes do tempo? Parece que o grande convite é para que vivamos a vida. Não é para que agente morra a cada dia, pelo contrário. É para que agente rejeite a cada dia, o que nos faz morrer. De modo que possamos de fato viver a vida. Mas isso é coisa pros que temem a Deus. É para aqueles que, embora tenham assumido como propósito em vida parecer com o Mestre dos mestres, não tem medo de viver, de escolher, de caminhar, se arriscando inclusive ao erro, pois “Todavia, não há um justo na terra, ninguém que pratique o bem e nunca peque.” (7.20). Mais adiante o pensador ainda diz:

“Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. Afaste seu coração da ansiedade e acabe com o sofrimento do seu corpo, pois a juventude e o vigor são passageiros. Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: “Não tenho satisfação neles”” (11.9-10; 12.1).

Alguns entendem que o pensador usou de ironia nesses versos. Eu não. Pra mim, o pensador continua dizendo ao que está vivo: “Viva, e viva hoje. Viva intensamente. Não se martirize, se punindo, ou se privando o tempo todo, mas viva. Mas viva mesmo! E viver mesmo, é viver intensa e sabiamente”. Então, se esse é nosso grande convite existencial, como aceitá-lo da forma mais digna possível? Como achar esse equilíbrio, sem se tornar prisioneiros dos medos, do moralismo hipócrita, da religiosidade cancerígena, e ao mesmo tempo, sem se perder na autodestruição da libertinagem, da “vida/morte” individualista e egocêntrica? Como achar a sabedoria necessária pra viver a vida? E o pensador responde em Provérbios:

“O temor do Senhor é o princípio (a chave) da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” (9.10) E mais: “Temer o Senhor é odiar o mal” (8.13a).

É odiar a fofoca, a falsidade, o egoísmo, o desprezo ao necessitado, a idolatria da religião, dos ministérios, a falta de humildade, a crítica sem a auto-análise, sem misericórdia, é odiar o engano, a mentira, o desamor.

Pra mim, essa passagem de ano é um lembrete e um convite do Criador à viver a vida. E viver intensamente, mas como quem o teme, odiando o mal, e amando todo o bem.

Feliz 2010!