domingo, 30 de maio de 2010

Enviados ao Mundo

“Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo.” Jo 17.15-18

Horas antes da crucificação, Jesus conversa com seus discípulos dando-lhes instruções de vida, falando-lhes também, sobre sua partida, sobre o envio do Ajudador, e encerra esse momento com uma oração ao Pai, que hoje é conhecida como a “oração sacerdotal de Jesus”. Ele orou por seus discípulos. Os da sua época, e os que viriam depois deles. Da oração de Jesus, os três versículos acima citados, neste momento, me prendem a atenção de modo especial. A partir deles aprendo, pelo menos, as seguintes lições:

• Não somos do mundo.
• Somos santificados do mundo pela Palavra.
• Somos enviados ao mundo.

A primeira frase desses versos é impactante: “Não rogo que os tires do mundo”. Jesus tinha uma cumplicidade tão grande com o Pai, que, apesar de amar profundamente os seus discípulos, e sabendo que continuando no mundo eles sofreriam aflições, por amor ao mundo, não pediu ao Pai que os tirasse do mundo, antes, que no mundo, eles fossem protegidos do Mal (Jo 16.33; 3.16). Para Jesus estava claro que ele não era do mundo e, portanto, que os seus seguidores também não eram. Porque embora Deus tenha amado o mundo de uma maneira tamanha, e por isso tenha escolhido não condenar o mundo, a sua atitude também não foi de condescendência com o sistema do mundo. Deus veio em Jesus, para salvar o mundo do seu estado de perdição (Jo 3.17). Não somos do mundo, embora estejamos no mundo. O apóstolo João ressaltou essa diferença entre ser do mundo e estar no mundo, através do texto: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1Jo 2.15) O amor do Pai, vivo, dentro de nossos corações, é a prova de que não amamos o sistema do mundo e os seus atrativos. Jesus, sábio senhor de seus discípulos, mais uma vez apela para o Pai: “que os protejas do Maligno”. Jesus sabe que embora não sejamos do mundo, no mundo, não permaneceríamos santos, separados do mundo, senão pela graça do Pai, que nos santifica por sua palavra. É a transformação da nossa mente pela palavra que nos faz viver segundo a vontade de Deus no mundo. Livres das cadeias do Maligno sobre as nossas mentes e corações; sobre as nossas idéias e emoções. É o amor de Deus, constantemente renovado em nossos corações pela palavra, que nos permitirá vivermos no mundo, não como do mundo, mas como enviados ao mundo. Porque Deus enviou Jesus ao mundo, para salvar o mundo (Jo 3.16-17). E Jesus, por sua vez, assim como o Pai o enviou, nos enviou também. O mundo precisa de luz. Minha casa precisa de luz. Minha escola precisa de luz. Meu trabalho precisa de luz. Meus amigos precisam de luz. O mundo clama desesperadamente por luz. E Jesus nos envia, para que todo aquele que nele creia, não continue morrendo em seus pecados, mas encontre a vida eterna.

“Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” Mt 5.14-16

domingo, 9 de maio de 2010

O Poder Para Perdoar

“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” Mt 6.12

Por muito tempo esse trecho da oração modelo ensinada por Jesus me incomodou. Não porque eu tivesse problemas em perdoar, embora isso não seja de todo uma inverdade, mas porque esse texto me parecia expor uma situação condicional que destoava da mensagem da graça de Deus. Parece contraditório, por exemplo, ver que até a fé para a salvação, que é o princípio de nossa caminhada em Deus é dom divino (embora, de alguma forma, esse processo também implique em responsabilidade humana), segundo a carta de Paulo aos efésios, capítulo segundo, verso oito, e entendermos, em contrapartida, que Jesus esteja ensinando que a condição para nós recebermos o perdão de nossos pecados seja perdoar primeiro! Desta forma, é como se nós tivéssemos de comprar o perdão para nós mesmos, usando como moeda o perdão que liberamos aos outros. E isso, não parece em nada com o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Pensando sobre essa questão, eu fui levado ao texto em Mateus 5.3, onde Jesus ensina: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” Antes de qualquer coisa, penso que seja preciso ressaltar que quando Jesus se refere ao reino dos céus, ele não está falando da vida após a morte, ou ao arrebatamento. Ele está falando de viver os princípios e a vida do reino dos céus desde já, posto que a vida eterna nos tenha sido outorgada por meio dele, no exato momento do nosso novo nascimento. Segundo Jesus, devemos desejar e orar para vivermos e expandirmos a influencia e o domínio do reino de Deus agora – “Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Mt 6.9-10. Voltando a Mateus 5.3, um novo questionamento me veio à mente. O que vem a ser “humilde de espírito”? Que exemplo concreto eu poderia ter? E então, lembrei da mulher pecadora, de Lucas 7.36-50. Faço questão de transcrever o texto:

Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa. Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma 'pecadora', trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma 'pecadora'“. Então lhe disse Jesus: "Simão, tenho algo a lhe dizer". "Dize, Mestre", disse ele. "Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?" Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus. Em seguida, virou-se para a mulher e disse a Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados; pois ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama". Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados". Os outros convidados começaram a perguntar: "Quem é este que até perdoa pecados?" Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".

Embora o convite do fariseu a Jesus, para jantar, seja possivelmente uma demonstração de que ele reconhecia alguma superioridade em Jesus, era honroso lavar os pés empoeirados dos convidados, o que era feito pelo escravo de serviços mais básicos. O beijo também era uma demonstração de respeito e estima, assim como o óleo era um reconhecimento da unção de Deus sobre o ungido. Mas Simão não fez nada disso! Na verdade, parece que o fariseu sondava mais do que amava. Aquela mulher, no entanto, muito amou. Quando Jesus respondia o silencioso, mas petulante questionamento de Simão, ele não estava dizendo que ele não tinha muito do que ser perdoado, mas que a diferença entre ele e aquela mulher, é que ela reconhecia o seu estado. Uma vez reconhecendo, ela se arrependeu dos seus pecados, e achou perdão. A atitude daquela mulher foi de humildade de espírito, o que não poderia resultar em outra coisa, senão em gratidão. E quem é grato por receber misericórdia, transborda misericórdia. Ou seja, aquele que mais perdão recebe, mais grato e condescendente se torna, porque aprende a amar. Aprende a se ver no outro, a se identificar com as limitações do outro. Leão Tolstoi, um pacifista russo, certa vez disse: “A prova de nossa obediência aos ensinamentos de Cristo é a conscientização de nosso fracasso em alcançar um ideal perfeito. O grau em que nos aproximamos dessa perfeição não pode ser visto; tudo o que podemos ver é a extensão do nosso afastamento.” Em outras palavras, quanto mais nos aproximamos de Deus, mais percebemos a nossa distância dele e, portanto, o quanto somos dependentes de sua misericórdia e graça. A conscientização de nosso estado, jamais nos permitirá julgar o nosso próximo como um inferior a nós. Mas é exatamente esse julgamento que fazemos quando negamos perdão.
A este ponto, penso ter progredido um pouco na minha compreensão de Mateus 6.12. Hoje, quando leio: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”, eu leio: Posto que nós temos reconhecido que somos tão falhos quanto aqueles que nos ofendem, e por isso lhes retribuímos com a misericórdia que de Ti recebemos, humildemente continuamos esperando por este favor da tua graça. Na verdade, o simples fato de podermos nos colocar diante de Deus na certeza de que Ele nos está ouvindo, já é uma clara demonstração do seu perdão previamente disponibilizado. Porém, nós só conseguimos colher os frutos deste perdão, quando temos um coração humilde, isto é, quando temos a consciência de que estamos na mesma condição dos nossos ofensores.
Finalmente, que a nossa oração seja sempre: “Oh Senhor, encontre em mim espírito humilde, espírito de quebrantamento e dependência, e me perdoe do meu pecado, assim como humilde e obedientemente, tenho perdoado os que me tem ofendido”. Amém.