segunda-feira, 12 de abril de 2010

O meu prazer, e o meu sustento.

No verão de 2005 (verão escocês, inverno no Brasil), já havia um ano que eu estava morando na Escócia. Eu estava como voluntário no projeto TentMakers, de Leith Batist Church, em Edimburgo, e precisa trabalhar para me manter. Porém, as leis britânicas só permitiam que estrangeiro com visto de estudante trabalhasse quatro horas/dia, o que era insuficiente para o suprimento das nossas necessidades. No entanto, era permitido que o estudante aproveitasse os períodos de férias, inclusive as férias de verão, o maior período do ano, para trabalhar tanto quanto lhe fosse possível. E nós buscamos aproveitar essa chance. A liderança do projeto sempre foi muito gentil, e nos ajudava a conciliar as atividades evangelísticas, e etc., com o tempo de trabalho extra, de modo que pudéssemos juntar alguma grana pra passarmos o ano seguinte, até as próximas férias, sem tanto sufoco. Eu saía cedo de casa, e geralmente voltava à noite. Trabalhava numa empresa de limpeza que prestava serviços para a prefeitura da cidade. No período regular eu era responsável pela limpeza de todo um andar da Portobello High school, a maior escola de Edimburgo. Todo o serviço tinha que ser feito em quatro horas, o que era um grande desafio diário pra apenas uma pessoa. Nas férias, nós éramos deslocados para outras escolas ou escritórios que não haviam sido tão bem cuidados durante o período letivo, ou para a limpeza de escadas dos prédios habitacionais da cidade, em todos os bairros. Nas escadas, geralmente ficávamos em três pessoas. A primeira descia varrendo, a segunda lançando um líquido detergente com uma espécie de bomba, e a terceira pessoa passava mopp. Os prédios tinham de um a cinco andares, e nós fazíamos dezenas por dia. O dinheiro pra alimentação era pouco, por isso, geralmente comíamos sanduiches de patê de sardinha que levávamos de casa e algum iogurte, claro, sempre dos mais baratos. O trabalho em si era digno, como todo trabalho o é. Mas alguns detalhes o tornava até humilhante. Éramos obrigados a fumar o dia inteiros durante o tempo em que estivéssemos na van, as às vezes, enquanto subíamos e descíamos limpando as escadas. Os palavrões e algumas conversas também nos faziam contorcer o espírito dentro em nós, sem falar das vezes que tivemos que fazer o trabalho sozinhos, enquanto colegas nativos descansavam. Antes do término daquele mês de “férias”, nós estávamos completamente esgotados. Física e emocionalmente. Todo o corpo doía, e volta e meia alguém aparecia com coriza, ou espirrando, denunciando o desgaste físico. No final de um dia, já quando esse período de férias se encerrava, nós recebemos uma ligação dizendo que deveríamos nos deslocar para um determinado lugar para fazemos três prédios que outra equipe havia deixado para trás. Nós estávamos acabados! Quase choramos quando recebemos o recado. Não restava mais força alguma. E eu me lembro que quando eu desci da van e coloquei minhas mãos sobre os instrumentos, pensei: “Senhor, eu preciso que você faça alguma coisa. Por favor, eu não sei o que. Mas faça alguma coisa, porque eu não agüento mais!” Imediatamente, o Espírito Santo começou a sussurrar no meu coração:

Quando os sonhos se frustram
Ou parecem não se realizar
Quando as forças se acabam
Tudo o que eu sei é Te adorar

Tua presença me aquieta a alma
E me faz ninar
Como um bebê que não precisa se preocupar
A minha vida escondida em tuas mãos está
Oh, meu Deus! Em Ti eu posso descansar

A esperança renasce
E a certeza de que perto estás
Tua paz me invade
Pois tudo o que sei é Te adorar
É Te adorar


Eu cantarolei com ele, em meus pensamentos. E quando me dei conta, já estava de volta à van. O trabalho já havia sido feito, e eu nem tinha percebido. As dores pareciam que não estavam mais ali, embora elas estivessem. É difícil explicar o que aconteceu, mas de alguma forma, uma manifestação impar da presença do Espírito Santo me consolou, me fortaleceu, e me trouxe esperança, me fazendo descansar mesmo quando, quase que literalmente, eu ainda carregava pedras. Eu posso dizer de fato, que Sua presença não é apenas o meu prazer, ela também é o meu sustento.

"Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera." (Isaías 64:4)

Obrigado, Senhor!

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