terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um olhar pra trás

Ouvir os conselhos de Salomão é, não apenas um rico caminho para ser sábio, mas também, de antemão, uma demonstração de sabedoria. Aliás, já foi dito que ao que tem, mais se lhe será dado (Lc 19.26). Parar e “ouvir” as orações de Salomão, então, é como se deparar com um baú de tesouros.
Na oração de dedicação do Templo (I Reis 8.22-61), ele sai mais uma vez na vanguarda, demonstrando que sua compreensão a respeito de Deus vai muito além da compreensão de muitos de nós, mesmo depois de Jesus Cristo. Enquanto ainda, literalmente, mistificamos a figura dos nossos templos, e principalmente, do altar ou púlpito, Salomão já dizia:

“Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!” (I Rs 8.27).

O rei Salomão também faz menção do caráter santo e misericordioso do Senhor. E é facilmente possível ver seu raciocínio quanto ao favor de Deus demonstrado ao seu povo, no fato de não desistir deles, quando estes se afastavam dele por causa do pecado:

“Quando Israel, o teu povo, for derrotado por um inimigo por ter pecado contra ti, e voltar-se para ti e invocar o teu nome, orando e suplicando a ti neste templo, ouve dos céus e perdoa o pecado de Israel, o teu povo, e traze-o de volta à terra que deste aos seus antepassados. Quando se fechar o céu, e não houver chuva por haver o teu povo pecado contra ti, e, se o teu povo, voltado para este lugar, invocar o teu nome e afastar-se do seu pecado por o haveres castigado, ouve dos céus e perdoa o pecado dos teus servos, de Israel, o teu povo. Ensina-lhes o caminho certo e envia chuva sobre a tua terra, que deste por herança ao teu povo. Quando houver fome ou praga no país, ferrugem e mofo, gafanhotos peregrinos e gafanhotos devastadores, ou quando inimigos sitiarem as cidades, quando, em meio a qualquer praga ou epidemia, uma oração ou súplica por misericórdia for feita por um israelita ou por todo o Israel, teu povo, cada um sentindo as suas próprias aflições e dores, estendendo as mãos na direção deste templo, ouve dos céus, o lugar da tua habitação. Perdoa e age; trata cada um de acordo com o que merece, visto que conheces o seu coração. Sim, só tu conheces o coração do homem. Assim eles te temerão durante todo o tempo em que viverem na terra que deste aos nossos antepassados.” I Rs 8.33-40

Salomão faz uma oração de súplica, embora estivesse dedicando ao Senhor o templo mais belo e rico que ele poderia oferecer. A sua oferta não serviu de recurso para crescimento de seu ego, pelo contrário, serviu para uma profunda meditação junto a todo o povo de Israel, sobre quem Deus é, e em consequência, sobre quem, eles mesmos, eram:

“Quando pecarem contra ti, pois não há ninguém que não peque” (v.46a); “Perdoa o teu povo, que pecou contra ti” (v.50a).

Sua riqueza de consciência é notória mesmo depois de sua oração. Salomão se colocou perante o altar do Senhor e abençoou o povo em alta voz.

“E pôs-se em pé, e abençoou a toda a congregação de Israel em alta voz, dizendo: Bendito seja o Senhor, que deu repouso ao seu povo Israel, segundo tudo o que disse; nem uma só palavra caiu de todas as suas boas palavras que falou pelo ministério de Moisés, seu servo. O Senhor nosso Deus seja conosco, como foi com nossos pais; não nos desampare, e não nos deixe. Inclinando a si o nosso coração, para andar em todos os seus caminhos, e para guardar os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos que ordenou a nossos pais. E que estas minhas palavras, com que supliquei perante o Senhor, estejam perto, diante do Senhor nosso Deus, de dia e de noite, para que execute o juízo do seu servo e o juízo do seu povo Israel, a cada qual no seu dia. Para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro. E seja o vosso coração inteiro para com o Senhor nosso Deus, para andardes nos seus estatutos, e guardardes os seus mandamentos como hoje.” (I Rs 8.55-61)

Salomão fez de um modo bem diferente do que a maioria dos cristãos tem aprendido a fazer em nossos dias. Ele não confundiu o seu papel com o de Deus. Ele não ousou declarar “Eu te abençôo assim, ou daquele jeito”, ainda que em nome de Deus. Muito pelo contrário, ele exaltou com gratidão a fidelidade do Senhor, em cumprir todas as suas promessas, e suplicou ao Senhor sua presença constante, bem como, seu favor de fazer o coração do povo sempre voltar-se a Ele. Pra terminar, Salomão ainda instruiu o povo a inclinar seus corações em integridade ao Senhor, como quem lembrasse que o favor do Senhor deveria ser desejo deles também. E isso foi o bastante.
Acho que agente precisa olhar mais pra trás. Acho que olhando mais pra trás, agente terá mais êxito enquanto seguimos pra frente.

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