Pois Deus não nos vê como o homem nos vê.

“O Senhor, contudo, disse a Samuel: “Não considere seu aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”.” 1Sm 16.7b

O profeta Samuel havia ido até a casa de Jessé para ungir um de seus filhos. Aquele que viria a ser o rei de Israel. Ao deparar-se com Eliabe, Samuel acentuou em seu coração que certamente o escolhido não seria outro, senão aquele belo e alto rapaz. No entanto, o Deus de Israel não vê como o homem vê.

A nossa vida, sem dúvida alguma, não nos foi dada para que a vivêssemos sozinhos. Mas, seguramente, nos foi dada para que cada um viva a sua própria. Cada um de nós tem o seu próprio caminho, seu próprio jeito de ser, talentos, habilidades, aptidões, inclinações, preferências próprias, e limites pessoais. Cada um tem seu próprio chamado, sua própria vocação. E cada vocação deve ter a cara do próprio vocacionado. Os nossos caminhos se cruzam com outros, vida a fora. Graças a Deus! E com muitos nós aprendemos, convivemos, compartilhamos momentos, períodos da vida, projetos, trabalhos... Mas o sonho que o Senhor sonhou, e plantou no meu coração, só nós mesmos podemos viver. Ninguém pode vivê-lo por nós. E se eu tentar vestir os sonhos de outros, ou os sonhos que outros sonharam por mim, não viverei sonho algum. Serei condenado a vagar sem jamais encontrar um sentido, uma razão de ser, um sentimento de pertencimento a algum propósito maior do que eu mesmo. Porque para cada um foi sonhado seu próprio sonho. Não são raras as tentações para que abramos mão do nosso próprio caminho para respondermos a expectativas alheias, seja de pais, parentes, líderes espirituais, colegas de trabalho, e inclusive de amigos. Mas o sonho foi plantado dentro de nós. Ele está lá, esperando ser despertado para ser perseguido. É somente dentro de nós mesmos que ele pode ser encontrado. Seguindo as pistas da coragem, da disciplina, da perseverança, a gente começa a entender que de fato, não precisamos encarar o olhar das pessoas sobre nós, como se fosse o olhar de Deus. Porque Deus olha diferente para nós. Ele vê aquilo que a maioria dos que estão ao nosso redor, mesmo os que nos amam, são incapazes de ver. Ele vê aquilo que somos de verdade. Ele vê nosso coração. E nos convida a aprendermos a dizer “não”. A não sermos nossos pais, pastores, mentores, e etc., porque somente sendo quem somos de verdade poderemos alcançar o nosso sonho verdadeiro. O sonho que ele mesmo sonhou. O sonho para o qual ele nos criou. O sonho que nos difere do outro, e que define quem realmente somos.